quinta-feira, 13 de março de 2008

Saída para crise é vista com pessimismo em Wall Street

Saída para crise é vista com pessimismo em Wall Street

David Wessel, The Wall Street Journal, de Washington

Valor Online 13/03/2008


Myron Scholes: governo vai gastar um monte de dinheiro dos contribuintes para resolver a bagunça do mercado de crédito e evitar uma catástrofe econômica
No púlpito de uma sala cheia de investidores de capital de risco, executivos do Vale do Silício e professores do Instituto Stanford para Política Econômica, Larry Summers - o ex-secretário do Tesouro americano e hoje professor em Harvard e conselheiro de fundos de hedge - não podia ser mais pessimista.


Na audiência, Myron Scholes, um Prêmio Nobel em finanças e veterano do colapso do fundo de hedge Long-Term Capital Management, hoje presidente de seu próprio fundo de hedge, escutava e rabiscava num bloco amarelo.


Sua conclusão, que tem ganhado adeptos, foi que o governo americano vai acabar gastando um monte de dinheiro do contribuinte para resolver a bagunça do mercado de crédito e evitar uma catástrofe econômica.


"Acho que eles deveriam pelo menos estar pensando nisso", disse. "Se vai ser preciso fazer isso mesmo, melhor fazer logo."


Numa pesquisa do Wall Street Journal com 51 economistas do setor privado, a ser divulgada hoje, 32, ou 63% deles, acham provável ou certo que o dinheiro público vai ser usado.


Wall Street iria adorar o que o secretário do Tesouro, Henry Paulson, chama, pejorativamente, de "um socorro", uma maneira de transferir os erros para os contribuintes. Mas, a menos que a maré se inverta logo, a severidade do estouro da bolha imobiliária e a fragilidade do sistema financeiro podem forçar a mão do governo.


Há todo tipo de especulação sobre como o governo deveria comprar hipotecas, adquirindo, na prática, ativos do sistema financeiro. O banco central, conhecido como Fed, está trocando alguns papéis do Tesouro por títulos de dívida lastreados por hipotecas para represar a queda de valor que está elevando os juros do crédito imobiliário.


Vários caciques do Partido Democrata, de oposição, reivindicam uma nova entidade governamental, ou a ampliação da existente, para comprar hipotecas de bancos e investidores e oferecer termos favoráveis para mutuários em dificuldades.


Scholes tem uma postura diferente. Ele prefere deixar os ativos (hipotecas) nas mãos do setor privado, que segundo ele consegue administrá-las melhor, e fazer o capital fluir para o sistema bancário de modo que os bancos não despejem ativos na bacia das almas e piorem uma situação já ruim.


Hipotecas e outros ativos bancários não valem tanto quanto os bancos pensam. As perdas minam suas reservas de capital. A alavancagem bancária amplia os efeitos. Em resposta, os bancos ou (a) concedem menos empréstimos e vendem ativos, ou (b) levantam capital em condições que diluem o valor dos atuais acionistas. Isso desde que possam encontrar investidores dispostos a apostar que os ativos bancários acabarão valendo mais do que hoje. Acionistas tendem a preferir a opção (a), o banco mais enxuto. Mas a solução de mercado poderia destruir valor e produzir um aperto de crédito de aleijar. A sociedade prefere a opção (b), daí as exortações de Paulson e Summers para que os bancos aumentem o capital, assim como a Fannie Mae e a Freddie Mac, instituições privadas de origem estatal cuja principal atividade é dar liquidez ao mercado hipotecário.


Levantar capital de maneira privada seria o melhor, mas e se isso não acontecer? O que o governo pode fazer? Se um banco quebra, o governo tira os acionistas da parada, fica dono de tudo e injeta dinheiro. Foi o que o Reino Unido fez com o Northern Rock este ano.


Quem deveria injetar dinheiro nos bancos americanos: o governo dos Estados Unidos ou os fundos soberanos de outros governos? Diz Scholes: "Parece-me que a recapitalização dessas entidades nos daria uma oportunidade de preservar o patrimônio, em vez de dissipar seu valor via liquidação - e dar um meio para que mais capital seja injetado neles sem destruir valor."


Como John Lipsky, o número 2 do Fundo Monetário Internacional, argumentou num discurso ontem, "as autoridades (...) precisam pensar o impensável". Ele sugeriu que o governo faça "planos de contingência" para o caso de "os investidores não estarem dispostos - como tem acontecido - a injetar dinheiro" nos bancos.


Mas eis o busílis: se o governo garante ou compra dívida dos bancos, melhora a situação dos acionistas. Se compra ações e dilui a participação dos acionistas atuais, são os credores que saem ganhando. A solução de Scholes é deixar o governo investir em dívida que tenha preferência sobre a dívida atual e em ações que tenham preferência sobre as atuais. Ninguém leva vantagem.


O banco não desova ativos e aumenta a concessão de crédito. Se tudo correr bem, o governo sai com lucro. Um grande problema: isso só funciona se os ativos de fato valerem mais amanhã do que hoje.


Há vários entraves práticos. Scholes reconhece o risco de que alguns bancos peguem o dinheiro dos contribuintes e apostem em ativos arriscados numa tentativa de obter lucro. Ele sugere fazer um leilão do dinheiro público para todos os bancos, não apenas os mais doentes.


Há motivos para ser cético. Os bancos não precisam de capital novo, disse Hyun Song Shin, um professor de Finanças de Princeton. "Os japoneses levaram dez anos para aprender essa lição." Mas ele chama a idéia de Scholes "um serviço" para os atuais acionistas. Eles deveriam perder suas participações antes de o governo pôr seu dinheiro num banco, argumenta. (O que ele faria? Para começar, aconselharia Paulson a chamar os maiores banqueiros dos EUA a seu gabinete e então os aconselhar a conservar capital suspendendo dividendos.)


Mas, a menos que os mercados e a economia americana mudem logo de curso, o que é impensável hoje pode parecer amanhã a melhor das alternativas ruins.