sábado, 8 de maio de 2010

Commodities...perspectivas para a 2a semana de maio




Fonte: Bloomberg

Situação em 07/05

INDEX NAME VALUE CHANGE OPEN HIGH LOW
(Vermelho)UBS BLOOMBERG CMCI 1247.70 -3.35 1248.39 1253.02 1232.09
(Laranja)S&P GSCI 503.47 -5.18 508.88 514.17 498.72
(Verde)RJ/CRB Commodity 261.32 -1.44 262.79 263.64 259.08
(Azul)Rogers Intl 3076.78 -19.54 3092.69 3108.00 3045.51


Situação em 30/04


INDEX NAME VALUE CHANGE OPEN HIGH LOW
UBS BLOOMBERG CMCI 1320.86 13.15 1314.70 1320.87 1309.05
S&P GSCI 549.94 5.52 548.06 551.08 544.83
RJ/CRB Commodity 277.71 2.42 276.17 277.98 275.29
Rogers Intl 3288.80 27.49 3269.53 3294.44 3263.08


Variação semanal 30/04 a 07/05


INDICE Fechamento (30/04) x Fechamento(07/05) VARIAÇÃO SEMANAL (%)

UBS BLOOMBERG CMCI 1320.86 1247.70-5,54%
S&P GSCI 549.94 503.47 -8,45%
RJ/CRB Commodity 277.71 261.32 - 5,90%
Rogers Intl 3288.80 3076.78 -6,44%

Análise:

Na primeira semana de maio, os preços das commodities vinham se movimentando com uma forte volatilidade decorrente dos desdobramentos da crise econômica da Grécia e a possibilidade de contágio a outros países europeus, quando na quinta-feira em um movimento de pânico generalizado em todas as bolsas mundiais, as "commodities" também sofreram violenta pressão vendedora, que mesmo após a pequena recuperação ocorrida na sexta-feira resultaram na forte queda de -6,58%, na média desses quatro índices, em relação ao fechamento da semana anterior.

Agora os preços estão apenas cerca de +17% acima dos preços praticados há um ano atrás, considerando-se a média desses índices.

O "candle" do gráfico semanal do "UBS Commodity Index", que fechou a semana com forte queda de - 4,48% e similar aos demais índices, é um "martelo cheio", decorrente da pequena reação na última sexta, depois da fortes quedas ocorridas na "quinta-feira negra".

Os preços das principais commodities vieram ao fundo do "canal de alta" de longo prazo, sendo que os preços no gráfico semanal do "UBS Commodity Index" chegaram a perder a LTA de longo prazo, mas conseguiram reverter na sexta para fechar nos 128,66 pontos, acima desse suporte .

Esta próxima semana deverá ser decisiva para os desdobramentos da crise na "região do euro" mas graficamente, existe uma maior probabilidade de abertura em alta desses mercados, na segunda-feira, visto que os principais osciladores gráficos estão em "região fortemente sobrevendida" e o gráfico diário da última sexta apresentou um "martelo de alta".

Suportes imediatos nos 127,92 (LTA) e nos 126,96 pontos (fundo semanal).

Resistências imediatas nos 130,70 a 130,80 ("neck line") e nos 132,10 pontos.

Abaixo do fundo semanal nos 126,96 mantem-se os objetivos de queda nos 122,42 pontos.

A tempestade perfeita encontra a soma de todos os medos.

por Ricardo Gallo em IG Economia
08/05/2010

Os eventos das últimas semanas na Europa e nos mercados merecem uns minutos de reflexão.

Três fatos abalaram a confiança do mercado nas últimas semanas:

Senado americano aprovou uma lei nas últimas semanas que proíbe que o tesouro use dinheiro público para salvar bancos, acabando com o conceito de que uma instituição financeira, por ser grande demais não pode quebrar pois causaria uma crise sistêmica e levaria o país a uma depressão.

Apesar do pacote bilionário de ajuda a Grécia, o mercado continuou desconfortável com a sustentabilidade da divida daquele país e começou a questionar a solvência de ouros países que tem situação fiscal delicada, e que, como a Grécia, não tem condições de desvalorizar sua moeda para suavizar os efeitos recessivos de um forte aperto fiscal.

China continuou seu aperto monetário elevando o compulsório de forma decisiva, assim como Índia e Brasil começaram um processo de elevação das taxas de juros pois já há sinais de pressão inflacionária crescente nestas economias.

O mercado vinha trabalhando com 3 hipóteses que ajudavam o otimismo e a confiança no processo de recuperação econômica na Europa, nos países emergentes e nos Eua:

1. O risco de uma crise sistêmica no g3 seria muito baixo já que os governos centrais não deixariam nenhuma instituição de grande porte quebrar. Isto elevou a confiança dos agentes na crença que a oferta de crédito voltaria a crescer este ano ainda, pois o custo de captação daqueles bancos ( vistos como grandes demais para quebrar ) cairia e os estimularia a voltar a emprestar. Este crédito mais barato causaria a volta dos investimentos de capital das empresas, que caíram com a crise para o nível mais baixo dos últimos anos no G3; este aumento de investimentos geraria então uma retomada do emprego, e com isto, o consumo privado voltaria a crescer com mais vigor, apesar do ainda elevado endividamento das pessoas físicas e dos governos, sustentando o crescimento.

2. Os governos centrais teriam recursos fiscais para continuar incentivando a economia e que sua dívida pública, que crescera bastante durante a crise, seria rolada facilmente em virtude das baixíssimas taxas de juros praticadas no G3. A grande capacidade ociosa na economia daqueles países permitiria que os BCs do G3 mantivessem tal política monetária frouxa por muito tempo.

3. As economias emergentes, em particular os BRICs, teriam uma papel importante ao alimentar a demanda global, com taxas de crescimento elevadas e sustentáveis, o que faria com que a indústria do G3 se recuperasse.

Bem, as três hipóteses que sustentaram a alta das bolsas e dos ativos de risco em geral foram seriamente abaladas nas últimas semanas.

Com a lei aprovada nos EUA o custo de captação medido pelo spread de risco entre os papéis emitidos pelos bancos dobrou em poucos dias, uma vez que há o risco, se tal lei for aprovada como foi proposta, da de algum banco. Com isto teme-se que a oferta de crédito caia e que suba seu custo, abortando-se assim a então recuperação dos investimentos privados que se iniciava motivada pela aceleração da produção industrial global recente.

A crise na Grécia mostra que o mercado começou a questionar na capacidade de alguns governos financiarem suas dívidas que hoje passam de 100% do PIB no g3. Isto pode fazer com que o processo de ajuste fiscal necessário nas economias centrais seja acelerado através da rápida redução do gasto e do investimento público além de aumentos na carga tributária, o que pode fazer com que economia no g3 sofra uma nova retração.

Com o aperto monetário sincronizado em vários países emergentes fica claro que há limites estruturais para suas taxas de crescimento, com o risco de termos uma elevação da inflação nestes países se economia não for arrefecida. Isto pode afetar a demanda global por commodities e, portanto, vir a derrubar seus preços, trazendo uma queda de renda de algumas economias , como no caso do Brasil. Além disto, teme-se que o aperto monetário chinês possa criar uma crise no seu mercado imobiliário gerando perdas para seus bancos, principais agentes financiadores desta onda de crescimento na China dos últimos 18 meses.

Todos estes riscos já eram processados e entendidos pelos mercados. A probabilidade desses eventos acontecerem nunca foi perto de zero. Havia provavelmente uma chance de 40% de tal lei bancária americana ser aprovada porém com algumas mudanças; de 20% de se ter uma crise de financiamento na Grécia, que seria equacionada com ajuda externa efetiva; e de 10% de uma crise imobiliária na China. Porém a probabilidade destes 3 problemas ocorrerem ao mesmo tempo era , na cabeça dos agentes econômicos, menor que 5%, o que eliminava, pelo menos dentro do campo da probabilidade, a chance da economia global sofrer uma nova queda, o que seria dramático a esta altura, dada a ainda frágil situação nos EUA e Europa, que há menos de 1 ano estavam em recessão.

Quando estas três tempestades se juntam, elas se potencializam e cria-se um tufão . A probabilidade de termos uma segunda crise econômica global, que era de menos de 5% na cabeça de todos, passou, nas últimas semanas, para 20 ou 30%. Isto é suficiente para que as pessoas reduzam sua exposição a ativos de risco (bolsa, imóveis, países emergentes, empresas pequenas, crédito público em alguns casos e crédito privado nos setores mais alavancados da economia).

Este clima de incerteza e dúvida deve persistir enquanto não se equacionar de forma mais definitiva o problema de financiamento dos estados europeus em dificuldades, como a Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha. Além disto, se isto não for feito com alguma rapidez podemos ter outros países centrais sofrendo de crise de solvência fiscal, como por exemplo, a Inglaterra que tem um déficit elevado e acaba passa por um processo político delicado ao eleger um parlamento provavelmente dividido, o que pode vir a trazer dúvidas quanto ao compromisso daquele país em reduzir seu déficit fiscal. Bélgica com sua dívida elevada também pode ser afetada. E até mesmo Eua e Japão, que tem dívida pública beirando os 200% do PIB. Sem falar do contágio desta crise fiscal no próprio sistema bancário daqueles países.

Alem disto, cabe aos congressistas americanos avaliarem o timing das tais reformas financeiras necessárias, pois leis como esta que foi recentemente aprovada, são necessárias, porém a delicadeza do momento atual não permite sua implementação imediata, e o mero debate de tais questões fragiliza a confiança dos investidores no sistema financeiro americano, ainda debilitado pelas enormes perdas com crédito no setor imobiliário .

Cabe a comunidade econômica européia, e em particular a Alemanha e França, entender a gravidade da situação atual, e equacionar a dívida dos países periféricos como um todo, e assumir que há sim enormes falhas no desenho do Euro e de suas instituições. È importante dar tempo e tranqüilidade para que os países endividados e com déficits elevados equacionem seus problemas fiscais e privados, preferencialmente através de um programa de cortes de gastos públicos correntes e de reformas trabalhistas, tributárias e no sistema de previdência que visem aumentar a competitividade daqueles países, evitando ao máximo aumento de impostos e corte em investimentos.

Os BC´s do g3 terão que adiar a eventual retirada dos estímulos monetários criado em 2008 e 2009, e na Europa é recomendável que se faça uma expansão do programa da afrouxamento quantitativo na oferta de crédito , com a eventual participação do ECB em compras de títulos públicos dos países endividados, da mesma forma que o BC americano fez com os papéis hipotecários, ao comprar mais de US$ 1 tri destes papéis no mercado. Esta medida, se for acompanhada de um programa crível de ajuste fiscal em vários países em dificuldade, pode trazer a normalidade ao sistema em poucos meses. E tudo isto trará um Euro mais fraco, o que é do interesse de todos estados europeus mais fracos.

Finalmente, os Brics e outros emergentes não podem permitir que inflação saia do controle ou que se crie bolhas em preços de ativos, como imóveis e bolsas. É preciso reduzir a oferta de crédito para níveis compatíveis com a taxa potencial de crescimento destas economias. Os países emergentes estão hoje importando as bolhas de crédito que foram criadas no G3 nos últimos anos e precisam ter políticas públicas que evitem que tais bolhas se espalhem aos preços de produtos, serviços ou mesmo de ativos. Com relação a China, é preciso que seja revista a política atual que privilegia aumentos de depósitos compulsórios para redução do crédito e da atividade econômica, e que não utiliza uma ferramenta importante que é a cambial. É chegada a hora da China reduzir o ritmo de aperto monetário e promover uma valorização gradual de sua moeda. O modelo de superávits cambiais gigantescos da China não é sustentável e é uma das causas das distorções e dos problemas de endividamento excessivo que temos no ocidente. O mercado imobiliário chinês pode e dever ser controlado através de medidas administrativas que impeçam a excessiva alavancagem e especulação muitas vezes fomentada pelos próprios governos das províncias chinesas. Um movimento da China neste momento seria bem recebido pelos mercados pois vai na direção da redução dos desequilíbrios externos americano e chinês.

Infelizmente o momento da verdade chegou mais cedo do que imaginávamos. E vai demandar dos governantes serenidade, coragem e bom senso, pois não temos espaço para erros. O pior que pode acontecer agora é abortarmos a retomada global do crescimento. Um segundo ato nesta crise épica dos últimos 2 ANOS pode ser o tufão que todos temíamos em nossos piores pesadelos.