segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dow Jones tem a maior queda em pontos de sua história

por Renato Martins da Agência Estado
29.09.2008 18h38

O mercado norte-americano de ações fechou em queda forte, com o índice Dow Jones registrando sua maior queda em pontos de todos os tempos e fechando no nível mais baixo desde 27 de outubro de 2005. O S&P-500 teve sua maior queda porcentual desde o "crash" de 26 de outubro de 1987. O Nasdaq fechou no nível mais baixo desde 13 de maio de 2005, pouco depois de estourar a "bolha" das ações de tecnologia. O mercado reagiu à rejeição, pela Câmara dos EUA, do pacote de US$ 700 bilhões em socorro às instituições financeiras.
A rejeição, com 205 votos a favor e 228 contra, surpreendeu os participantes do mercado, que haviam acompanhado as negociações entre as lideranças partidárias durante o fim de semana e estavam otimistas quanto à aprovação. A presidência da Câmara chegou a manter a votação aberta por 40 minutos (depois de esgotados os 15 minutos regulamentares para votação) e alguns deputados, pressionados, chegaram a mudar seus votos, mas isso não afetou o resultado final. "É de estraçalhar os nervos. Acho que a maioria das pessoas previa que o projeto do Congresso seria aprovado", comentou Thomas Benfer, da BMO Capital Markets.
Scott Peterson, porta-voz da Bolsa de Nova York, observou que uma onda de ordens de venda no momento do fechamento causou uma demora de mais de 20 minutos, depois de soar o sino que marca o encerramento do pregão, para que todos os ajustes no Dow se processassem. "Havia desequilíbrios enormes no fechamento, maiores do que o mercado podia absorver", disse Peterson.
As ações do banco Wachovia, cuja aquisição pelo Citigroup havia sido anunciada no fim de semana, foram suspensas e só passaram a ser negociadas depois das 15h30 (de Brasília); elas fecharam em queda de 81,60%; as do Citigroup, por sua vez, recuaram 11,91%. As do banco regional National City Corp., objeto de rumores sobre sua saúde financeira, perderam 63,34%. Outros destaques negativos no setor financeiro foram Fifth Third Bancorp (-43,63%) e Bank of New York Mellon (-18,77%). Além de Citigroup, as outras componentes do Dow que tiveram quedas maiores do que 10% foram JPMorgan Chase (-15,01%), Intel (-10,05%), General Motors (-12,81%), Chevron (-10,87%), Bank of America (-17,58%) e American Express (-17,60%).
O índice Dow Jones fechou em queda de 777,68 pontos (-6,98%), em 10.365,45 pontos (mínima do dia); a máxima foi em 11.139,94 pontos. O Nasdaq fechou em queda de 199,61 pontos (-9,14%), em 1.983,73 pontos (mínima do dia); a máxima foi em 2.152,69 pontos. O S&P-500 caiu 106,59 pontos (-8,79%), para fechar em 1.106,42 pontos (mínima do dia).

Títulos

Os preços dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) dispararam, com queda forte nos juros. Os investidores buscaram a suposta segurança dos Treasuries em reação à rejeição do pacote de socorro às instituições financeiras pela Câmara. "Se essa lei não for aprovada, as conseqüências serão graves para o mercado financeiro e para a economia. O crédito vai ficar ainda mais apertado, o que vai levar a demissões e falências em massa. O Congresso deveria saber quão sérios são os problemas que estamos enfrentando neste momento", comentou o estrategista Josh Stiles, da IdeaGlobal. Outro participante do mercado disse acreditar que o mercado de títulos de curto prazo deverá "congelar" nesta terça-feira.
No fechamento em Nova York, o juro projetado pelos T-Bonds de 30 anos estava em 4,160% ao ano, de 4,357% na sexta-feira; o juro das T-Notes de 10 anos estava em 3,628%, de 3,851% na sexta-feira; o juro das T-Notes de 2 anos estava em 1,720%, de 2,132% na sexta-feira. As informações são da Dow Jones.

Bovespa cai 9,36%, maior queda desde janeiro de 1999

por Claudia Violante da Agência Estado
29.09.2008 17h40

Os líderes partidários norte-americanos trabalharam o final de semana todo em torno de um consenso sobre o pacote bilionário de socorro do governo dos EUA ao sistema financeiro. Conseguiram o consenso, mas a votação hoje à tarde na Câmara dos Deputados do país jogou o esforço no lixo ao não aprovar as medidas, promovendo uma faxina nos ativos financeiros. As bolsas despencaram pelo mundo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a suspender o pregão (acionou o mecanismo de "circuit breaker") ao cair mais de 10%, interrompendo suas negociações por 30 minutos. E não há quem preveja que o fundo do poço já chegou.
O índice Bovespa fechou em queda de 9,36%, na maior queda porcentual desde 14 de janeiro de 1999, quando havia despencado 9,97%. Perdeu 4.754,93 pontos durante o pregão, para fechar em 46.028,06 pontos. Oscilou entre a mínima de 43.766 pontos (-13,82%) e a máxima de 50.473 pontos (-0,08%). No mês, acumula perdas de 17,33% e, no ano, de 27,95%. O giro financeiro somou R$ 5,766 bilhões, considerado fraco perto do que se viu na sessão, uma vez que muitos investidores ainda estão na defensiva. As informações são preliminares.
Em Wall Street, os índices fecharam na pontuação mínima do dia. O Dow Jones perdeu 6,98%, aos 10.365,45 pontos, o S&P recuou 8,79%, para 1.106,42 pontos, e o Nasdaq tombou 9,14%, para 1.983,73 pontos. As informações são preliminares.
O pacote de ajuda bilionária ao sistema financeiro encontrou resistências no Congresso dos EUA ao longo da última semana, o que levou os parlamentares a passarem o final de semana para buscar o consenso. Ontem, ele veio, embora as críticas continuassem pipocando. Mas, apesar disso, ninguém previa que a Câmara rechaçaria o acordo visto que, ruim com ele, pior sem ele.
Os parlamentares ignoraram o apelo do presidente George W. Bush, do secretário do Tesouro, Henry Paulson, e do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, e imputaram ao governo uma derrota por 228 votos contra e 205 a favor. Isso aconteceu apesar de os líderes da Câmara terem mantido a votação aberta além do limite de tempo de 15 minutos, com os defensores do plano incapazes de convencer um número suficiente de deputados de ambos os partidos a mudarem seus votos contrários. Depois da rejeição, Paulson avisou que vai consultar o presidente Bush, Bernanke e líderes do Congresso para saber como agir.
Antes da votação, os índices acionários já operavam com queda acentuada, puxada principalmente pelas ações de bancos, setor que teve uma avalanche de notícias ruins, todas de instituições em situação bastante frágil. Na Europa, o banco Bradford & Bingley será estatizado pelo Reino Unido, o belgo-holandês Fortis precisou receber socorro dos governos da Bélgica, de Luxemburgo e da Holanda e o alemão Hypo Real foi resgatado por um consórcio de bancos privados. Nos EUA, o Citigroup vai adquirir operações bancárias do Wachovia e o Morgan Stanley venderá uma fatia de 21% ao Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG), maior banco japonês em capitalização de mercado.
Na Bovespa, houve fuga de capital de toda a natureza, de investidores estrangeiros e domésticos. Além da fuga dos investidores, também teve movimento de "stop loss" (ordens de prevenção de prejuízo), que, segundo ele, pode continuar amanhã, quando as pessoas físicas assistirem o noticiário do dia caótico de hoje. "Tenho certeza de que vão vender suas posições", previu.
No pior momento da sessão, as ações da Petrobras e da Vale, as blue chips do pregão, derreteram mais de 15%. Mas não foram as maiores perdas do Ibovespa, que ficaram com Rossi Residencial (-21,06%) e BM&FBovespa (-20,22%). Nenhuma ação do Ibovespa fechou em alta hoje. Para amanhã, o cenário pode se repetir, mas com menos vigor. Nas palavras de um profissional, o lado bom do cenário de hoje é que o governo dos EUA terá que fazer um novo plano, que pode ser melhor do que o que foi rejeitado hoje.