terça-feira, 23 de setembro de 2008

Dúvidas persistem e Wall Street volta a fechar em queda

por Renato Martins da Agência Estado
23.09.2008 18h31

As Bolsas americanas voltaram a fechar em queda, com o índice Dow Jones acumulando uma perda de mais de 460 pontos nos dois últimos dias, na maior queda em dois pregões consecutivos desde 2002; o Dow Jones fechou apenas 245 pontos acima da mínima de fechamento do ano, alcançada na quarta-feira passada; o S&P-500 ficou a apenas 32 pontos de sua mínima de fechamento do ano.
Assim como ontem, a queda hoje foi atribuída às incertezas que cercam o pacote de US$ 700 bilhões em socorro às instituições financeiras anunciado no fim de semana nos Estados Unidos. Embora o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, e o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, tenham defendido a proposta em depoimento a um comitê do Senado, os integrantes do Congresso mostraram resistências, ao mesmo tempo que prosseguem as dúvidas sobre se o pacote contribuirá para a recuperação da economia. "As pessoas querem ouvir novidades concretas sobre o plano, parece que eles ainda têm algum trabalho pela frente. Isso nos traz mais incerteza, e uma coisa que Wall Street odeia é incerteza", comentou Joe Saluzzi, da Themis Trading.
Das 30 componentes do Dow Jones, 27 ações fecharam em queda (as exceções foram American Express +2,65%, Intel +0,70% e Microsoft +0,16%). Em meio às incertezas sobre a economia, as ações da General Motors caíram 7,43% e as da General Electric perderam 4,59%. As ações dos setores de metais, petróleo e outras commodities estavam entre as que mais caíram, em reação à retomada do movimento de queda dos preços das commodities (Alcoa -4,51%, ExxonMobil -1,51%, Chevron -2,14%).
O índice Dow Jones fechou em queda de 161,52 pontos (-1,47%), em 10.854,17 pontos. O Nasdaq fechou em queda de 25,64 pontos (-1,18%), em 2.153,34 pontos. O S&P-500 caiu 18,87 pontos (-1,56%), para 1.188,22 pontos.

Títulos

Os preços dos títulos de curto prazo do Tesouro dos EUA subiram, com correspondente baixa nos juros. Os preços dos Treasuries de 10 e de 30 anos caminharam na direção oposta. A alta dos preços das T-Notes de 2 e de 5 anos foi atribuída ao crescimento da preocupação dos investidores quanto ao pacote de socorro ao setor financeiro de US$ 700 bilhões anunciado no fim de semana. Embora Bernanke e Paulson tenham passado horas defendendo o pacote durante uma audiência no Senado, deputados e senadores do Partido Democrata, de oposição ao governo do presidente George W. Bush, disseram que o plano só será aprovado pelo Congresso com mudanças substanciais em relação ao que foi anunciado.
"Claramente, até agora o plano Paulson não fez muito para aliviar os temores quanto ao setor financeiro e aos mercados em geral. A aversão a risco que vimos na semana passada está voltando a nos assombrar novamente, e isso provavelmente vai continuar até o fim do trimestre", disse o estrategista Ira Jersey, do Credit Suisse. Para Glenn Holland, vice-presidente sênior da divisão de estratégia para renda fixa da Newedge USA, os participantes do mercado estão preocupados com "a total falta de clareza sobre como o pacote de socorro vai ficar".
Em Chicago, no fim da tarde, os contratos futuros de Fed Funds para novembro projetavam uma probabilidade de 58% de que o Fed reduza a taxa dos Fed Funds de 2% para 1,75% ao ano na reunião de 28 e 29 de outubro; ontem, essa projeção estava em 34%.
No fechamento em Nova York, o juro projetado pelos T-Bonds de 30 anos estava em 4,406% ao ano, de 4,395% ontem; o juro das T-Notes de 10 anos estava em 3,822%, de 3,808% ontem; o juro das T-Notes de 2 anos estava em 2,072%, de 2,097% ontem. As informações são da Dow Jones.

Bovespa recua 3,78% com commodities em queda

por Claudia Violante da Agência Estado
23.09.2008 17h50

Pelo segundo pregão consecutivo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) terminou com perdas substanciais, ainda em decorrência das incertezas que cercam a aprovação do socorro bilionário anunciado pelo governo norte-americano ao sistema financeiro. A defesa do pacote feita hoje no Congresso dos EUA pelo presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, e pelo secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, não dizimou as dúvidas, embora tenha contribuído para uma recuperação do dólar no mercado global de moedas. Com isso, os preços das matérias-primas (commodities) acabaram caindo e serviram de peso extra de baixa à Bolsa brasileira, na qual têm grande influência.
O Ibovespa fechou em queda de 3,78% a 49.593 pontos, depois de oscilar entre a mínima de 49.289 pontos (-4,37%) e a máxima de 51.856 pontos (+0,61%). No mês, o Ibovespa acumula perda de 10,93% e, no ano, de -22,37%. O volume de negócios totalizou R$ 5,35 bilhões.
Em Wall Street, o índice Dow Jones terminou em baixa de 1,47% a 10.854 pontos; o S&P recuou 1,56% a 1.188 pontos e o Nasdaq caiu 1,18% a 2.153 pontos. Os dados são preliminares. Na Europa, o índice CAC-40, da Bolsa de Paris, recuou 1,98% e em Frankfurt o índice DAX terminou em queda de 0,64%. A Bolsa de Londres cedeu 1,91%.
As atenções de hoje estavam totalmente voltadas para os depoimentos de Bernanke e Paulson, no Congresso americano, onde eles se revezaram em pedir que os parlamentares aprovem rapidamente a ajuda de US$ 700 bilhões proposta no final de semana. Segundo Paulson, é preciso passar rapidamente o texto, sem atrasos com cláusulas que "não estão relacionadas ou que não tenham amplo apoio". Ele ainda pediu uma 'forte supervisão' para o plano do governo dos EUA, que é justamente um dos pontos defendidos pelos congressistas.
Apesar dos apelos, o efeito não foi exatamente o previsto, já que os analistas consideraram as declarações um pouco pessimistas, principalmente quando Bernanke instou os congressistas a aprovarem logo o pacote alegando que a economia dos EUA e seus mercados financeiros enfrentarão sérios riscos caso isso não ocorra. Para Bernanke, a ação é necessária para estabilizar os mercados, de modo a minimizar os efeitos sobre a economia.
Uma das críticas foi a analista Meredith Whitney, da gestora Oppenheimer & Co, para quem a turbulência está tão severa que seus efeitos negativos sobre a economia podem não ser enfraquecidos pelo plano de resgate. Ou seja, mesmo se passar no Congresso, o plano pode ter seus efeitos minimizados sobre a economia real.
Os indicadores econômicos já mostram que a situação é complicada fora de Wall Street. Hoje, foi divulgado que os preços das moradias nos EUA caíram 0,6% de junho a julho, 5,3% nos 12 meses encerrados em julho e também 5,3% desde que atingiram o pico, em abril de 2007. Em julho, o índice mensal atingiu o menor nível desde outubro de 2005.
Diante de tanta incerteza, o investidor fica de um lado para outro, à procura do ativo que lhe permitirá perder menos. Ontem, a tábua de salvação ficou com as commodities; hoje, com o dólar - principalmente com a leitura de alguns de que, no final das contas, bom ou ruim, o pacote deve mesmo ser aprovado nesta semana. A alta da moeda norte-americana levou os produtos básicos, que ontem subiram, a engatar o caminho de volta: metais, produtos agrícolas e petróleo fecharam em baixa.
Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês), o contrato futuro de petróleo com vencimento em novembro terminou cotado a US$ 106,61 por barril, com recuo de 2,52%. Isso atingiu os papéis da Petrobras na Bovespa, que hoje perderam mais de 4%. As ações da mineradora Vale sofreram mais, ao seguir o comportamento das mineradoras na Europa e também o desconto que os investidores vêm fazendo na ação, diante da pressão da brasileira por um novo reajuste do minério que vende à China. Isso apesar dos sinais de retração mundial. As ações ordinárias (ON) da Vale caíram mais de 8% no pior momento da sessão, e fecharam não muito longe disso, a -7,33%. As ações preferenciais da classe A (PNA) da Vale cederam 5,81% na mínima e -5,44% no fechamento. Petrobras PN fechou em baixa de 4,73% a R$ 33,25 e Petrobras ON caiu 4,63% a R$ 40,99.