terça-feira, 23 de setembro de 2008

Bovespa recua 3,78% com commodities em queda

por Claudia Violante da Agência Estado
23.09.2008 17h50

Pelo segundo pregão consecutivo, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) terminou com perdas substanciais, ainda em decorrência das incertezas que cercam a aprovação do socorro bilionário anunciado pelo governo norte-americano ao sistema financeiro. A defesa do pacote feita hoje no Congresso dos EUA pelo presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, e pelo secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, não dizimou as dúvidas, embora tenha contribuído para uma recuperação do dólar no mercado global de moedas. Com isso, os preços das matérias-primas (commodities) acabaram caindo e serviram de peso extra de baixa à Bolsa brasileira, na qual têm grande influência.
O Ibovespa fechou em queda de 3,78% a 49.593 pontos, depois de oscilar entre a mínima de 49.289 pontos (-4,37%) e a máxima de 51.856 pontos (+0,61%). No mês, o Ibovespa acumula perda de 10,93% e, no ano, de -22,37%. O volume de negócios totalizou R$ 5,35 bilhões.
Em Wall Street, o índice Dow Jones terminou em baixa de 1,47% a 10.854 pontos; o S&P recuou 1,56% a 1.188 pontos e o Nasdaq caiu 1,18% a 2.153 pontos. Os dados são preliminares. Na Europa, o índice CAC-40, da Bolsa de Paris, recuou 1,98% e em Frankfurt o índice DAX terminou em queda de 0,64%. A Bolsa de Londres cedeu 1,91%.
As atenções de hoje estavam totalmente voltadas para os depoimentos de Bernanke e Paulson, no Congresso americano, onde eles se revezaram em pedir que os parlamentares aprovem rapidamente a ajuda de US$ 700 bilhões proposta no final de semana. Segundo Paulson, é preciso passar rapidamente o texto, sem atrasos com cláusulas que "não estão relacionadas ou que não tenham amplo apoio". Ele ainda pediu uma 'forte supervisão' para o plano do governo dos EUA, que é justamente um dos pontos defendidos pelos congressistas.
Apesar dos apelos, o efeito não foi exatamente o previsto, já que os analistas consideraram as declarações um pouco pessimistas, principalmente quando Bernanke instou os congressistas a aprovarem logo o pacote alegando que a economia dos EUA e seus mercados financeiros enfrentarão sérios riscos caso isso não ocorra. Para Bernanke, a ação é necessária para estabilizar os mercados, de modo a minimizar os efeitos sobre a economia.
Uma das críticas foi a analista Meredith Whitney, da gestora Oppenheimer & Co, para quem a turbulência está tão severa que seus efeitos negativos sobre a economia podem não ser enfraquecidos pelo plano de resgate. Ou seja, mesmo se passar no Congresso, o plano pode ter seus efeitos minimizados sobre a economia real.
Os indicadores econômicos já mostram que a situação é complicada fora de Wall Street. Hoje, foi divulgado que os preços das moradias nos EUA caíram 0,6% de junho a julho, 5,3% nos 12 meses encerrados em julho e também 5,3% desde que atingiram o pico, em abril de 2007. Em julho, o índice mensal atingiu o menor nível desde outubro de 2005.
Diante de tanta incerteza, o investidor fica de um lado para outro, à procura do ativo que lhe permitirá perder menos. Ontem, a tábua de salvação ficou com as commodities; hoje, com o dólar - principalmente com a leitura de alguns de que, no final das contas, bom ou ruim, o pacote deve mesmo ser aprovado nesta semana. A alta da moeda norte-americana levou os produtos básicos, que ontem subiram, a engatar o caminho de volta: metais, produtos agrícolas e petróleo fecharam em baixa.
Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês), o contrato futuro de petróleo com vencimento em novembro terminou cotado a US$ 106,61 por barril, com recuo de 2,52%. Isso atingiu os papéis da Petrobras na Bovespa, que hoje perderam mais de 4%. As ações da mineradora Vale sofreram mais, ao seguir o comportamento das mineradoras na Europa e também o desconto que os investidores vêm fazendo na ação, diante da pressão da brasileira por um novo reajuste do minério que vende à China. Isso apesar dos sinais de retração mundial. As ações ordinárias (ON) da Vale caíram mais de 8% no pior momento da sessão, e fecharam não muito longe disso, a -7,33%. As ações preferenciais da classe A (PNA) da Vale cederam 5,81% na mínima e -5,44% no fechamento. Petrobras PN fechou em baixa de 4,73% a R$ 33,25 e Petrobras ON caiu 4,63% a R$ 40,99.

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