quarta-feira, 7 de maio de 2008

Bolsa de NY tem queda forte com imóveis e petróleo

por Renato Martins da Agência Estado
07.05.2008 18h11

O mercado americano de ações fechou em queda forte, reagindo a um indicador fraco de vendas de imóveis residenciais e à nova alta dos preços do petróleo e refletindo uma preocupação maior dos investidores com a saúde das instituições financeiras. Um operador de um fundo disse que "o mercado de títulos lastreados em hipotecas despencou novamente, por causa dos números horríveis de vendas de imóveis residenciais. As notícias só ficam piores". Pela manhã, a Associação Nacional dos Corretores de Imóveis dos EUA (NAR) informou que o índice de vendas pendentes de imóveis caiu 1% em março, em relação a fevereiro, com queda de 20% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
As ações do setor financeiro estavam entre as que mais caíram, depois de a Securities and Exchange Comission (SEC, órgão regulador do mercado de capitais americano) anunciar que passará a exigir que os bancos de investimento divulguem níveis de capital e de liquidez. Outro fator foi a declaração do dirigente da regional do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de Kansas City, Thomas Hoenig, de que preocupações "sérias" quanto à inflação poderão obrigar o Fed a elevar as taxas de juro. Merrill Lynch despencou 5,59%, Lehman Brothers cedeu 5,76% e Citigroup perdeu 5,37%.
As ações das construtoras sofreram quedas fortes, em reação ao indicador de vendas pendentes de imóveis residenciais. DR Horton caiu 6,59% e Lennar perdeu 5,26%. A alta dos preços do petróleo fez caírem as ações do setor de transporte, como UPS (-2,39%); as das empresas de petróleo também caíram (ExxonMobil recuou 1,39%).
O índice Dow Jones fechou em queda de 1,59%, em 12.814,35 pontos. O Nasdaq encerrou em baixa de 1,80%, em 2.438,49 pontos. O S&P-500 caiu 1,81%, para 1.392,57 pontos. O NYSE Composite recuou 1,80%, para 9.339,47 pontos. As informações são da Dow Jones.

Após 4 recordes, Ibovespa fecha em baixa de 1,68%

por Claudia Violante da Agência Estado
07.05.2008 17h31

O novo recorde do petróleo no mercado internacional, razão que outrora deu suporte à alta do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, foi hoje motivo para a Bolsa doméstica cair após quatro pregões seguidos de avanço (quando acumulou quase 10% de elevação). A explicação é uma só: os investidores procuravam uma boa razão para embolsar os lucros e o fechamento do petróleo acima de US$ 123 por barril pesou negativamente sobre as bolsas americanas, respingando no mercado acionário brasileiro. Praticamente todos os papéis do Ibovespa seguiram, restando apenas seis ações em alta no final do dia.
A Bolsa encerrou em queda de 1,68%, aos 69.017,7 pontos. Oscilou entre a mínima de 69.599 pontos (-2,27%) e a máxima de 70.545 pontos (+0,5%). No mês, os ganhos foram reduzidos a 1,68% e, no ano, a 8,03%. O volume financeiro totalizou R$ 7,1 bilhões.
Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em baixa de 1,59%, aos 12.814,4 pontos. O S&P caiu 1,81% e o Nasdaq, 1,80%. Os temores com a inflação estavam entre as justificativas para as ordens de vendas. Os investidores já amanheceram com estas preocupações no horizonte, depois que o dirigente da regional do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de Kansas, Thomas Hoenig, disse (ontem à noite) que o cenário de inflação pode demandar elevação de juros. A alta incansável do petróleo alimentou este receio. Hoje, o petróleo negociado na Bolsa Mercantil de Nova York fechou em inéditos US$ 123,53, alta de 1,39%.
O aumento surpreendeu porque os dados de estoques divulgados nos EUA foram bem melhores do que as estimativas. Os estoques de petróleo subiram 5,7 milhões de barris na semana encerrada em 2 de maio, quando a projeção era de alta de 1,4 milhão de barris. Cabe aqui registrar que o dado do setor imobiliário divulgado mais cedo também foi superior às projeções. As vendas pendentes de imóveis residenciais nos EUA caíram 1,0% em março ante fevereiro (1,8% era a estimativa).
Fato é que hoje a alta do petróleo acabou não "salvando" as ações da Petrobras da queda. Os papéis conseguiram se segurar apenas até o meio da tarde - depois, caíram com a realização mais forte e arrastaram consigo a Bovespa. Petrobras PN perdeu 0,33% e Petrobras ON recuou 0,88%. Os metais também caíram no exterior e ancoraram as vendas de ações da Vale. Os papéis PNA caíram 2,25% e os ON cederam 2,76%.
A análise corrente do mercado é de que o otimismo com o grau de investimento conquistado pelo Brasil na semana passada está longe de acabar - tanto que a queda hoje foi relativamente tímida perto do que subiu a Bolsa nos últimos dias. Mas algumas medidas que estariam em estudo pelo governo para conter o fluxo de recursos ao Brasil poderiam diminuir um pouco o fôlego de compras até que mais uma novidade - a elevação para grau de investimento por uma segunda agência, por exemplo - seja divulgada.
O gestor de renda fixa da Icatu Hartford, Ian Caó, acredita que o governo não terá como não lançar mão destas ações e crê que elas devem ser anunciadas em breve. “A pressão de demanda é muito grande e o governo está preocupado com a alta da inflação e das projeções para os preços. Não há saída. Uma medida terá que ser adotada”, disse ele, ao justificar que o compulsório (parcela de recursos que os bancos têm que depositar no BC), uma das ações que o governo poderia adotar, conforme rumores de mercado, é menos impopular.
De qualquer forma, segundo ele, a Bovespa deve ser o mercado que deve sentir mesmo medidas como essas. “Há dois tipos de empresas na Bolsa, as que já são grau de investimento e aquelas que se beneficiaram da elevação da nota da S&P. Essas medidas afetariam mais esse segundo grupo, mas a relevância dele sobre o índice é baixa. Assim, o efeito é pequeno”, comentou.

Previsões apontam petróleo a US$ 150

por Neil King Jr. e Spencer Swartz, The Wall Street Journal
Valor Online
07/05/2008



Os consumidores de petróleo que já sofrem com a alta do custo com combustíveis podem ter ainda mais dificuldades nos próximos meses, porque uma série de fatores, que vão da instabilidade na Nigéria à queda na produção da Rússia, pode levar o preço do barril acima dos US$ 150, segundo um crescente número de observadores do mercado. Preços do petróleo bruto a esse nível seriam um golpe à economia mundial.
O contínuo avanço do petróleo levou vários analistas a divulgar projeções de preço cada vez mais sombrias. A Goldman Sachs, que previu a recente escalada com talvez mais precisão que qualquer outra firma, projeta agora que o mundo pode enfrentar um "super-salto" no qual o petróleo ficaria entre US$ 150 e US$ 200 por barril talvez já em outubro. Ontem, o barril bateu novo recorde e ficou em US$ 121,84 em Nova York, acumulando uma alta de 27% este ano.
"Isso deixaria o petróleo em níveis de preço inéditos mesmo se remontarmos a pouco depois da Guerra Civil americana", diz Stephen Brown, economista do setor energético do Federal Reserve Bank de Dallas. Um petróleo na faixa de US$ 150 cortaria em torno de 1,8% da produção econômica americana no primeiro ano, e outro 1,5% no segundo, estima Brown. A economia americana teve um crescimento anêmico de 0,6% anualizados no primeiro trimestre.
Observadores do mercado dizem que praticamente todos os indícios apontam para a continuidade da alta. Apesar dos rumores de que especuladores impulsionaram a cotação como uma proteção contra a desvalorização do dólar, o petróleo continuou a subir 10% desde a primeira semana de abril, enquanto o dólar se valorizou apenas 2% em relação ao euro.
Ainda mais incomum é o fato de que o petróleo manteve sua sólida alta mesmo diante da queda acentuada da demanda americana, que em fevereiro diminuiu para 19,7 milhões de barris diários - 1 milhão a menos do que a média diária de 2007. Uma recuperação da demanda, talvez fomentada pelo pacote de US$ 152 bilhões do governo para estimular a economia, pode deixar de joelhos um mercado mundial já no limite.
"Não é que um gênio escapou da lâmpada - é que 100 gênios escaparam da garrafa", diz Daniel Yergin, presidente do conselho da Cambridge Energy Research Associates. Conhecida pelo pessimismo de suas previsões, a consultoria agora defende a mais sombria das estimativas que divulgou em 2006, afirmando que a cotação pode chegar a US$ 150 neste ano.
O excedente menor na capacidade mundial de produção, argumenta Yergin, continua a ser o maior fator por trás da alta recente. A maioria das estimativas afirma que a reserva de segurança disponível imediatamente, praticamente toda na Arábia Saudita, está agora em 2 milhões de barris diários - ou apenas 2,3% da demanda diária, o menor nível das últimas décadas.
O mercado petrolífero ficou ainda mais tenso com as más notícias em grandes produtores como Nigéria e Rússia. A Indonésia, antiga integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, anunciou que pode abandonar o cartel no ano que vem, já que sua produção continua a cair para níveis de menos da metade do pico de 1,7 milhão de barris diários, alcançado no início dos anos 90. Desde 2004 que o país é importador líquido de petróleo.
Na Nigéria, na semana passada, uma série de ataques de rebeldes contra a infra-estrutura petrolífera do país e uma greve de petroleiros reforçaram a reputação do país como um dos fornecedores menos confiáveis do mundo. Atos de sabotagem já cortaram pelo menos um quarto da capacidade diária de bombeamento da Nigéria, que é de 2,5 milhões de barris.
O mercado mundial já está acostumado a se decepcionar com os produtores que não pertencem ao cartel, à medida que a falta de investimento e o amadurecimento dos campos em lugares como México e Rússia diminuíram a produção dos países nos últimos anos.
A produção fora da Opep pode crescer 1% este ano, muito menos do que esperam os analistas. A Agência Internacional de Energia, sediada em Paris e financiada pelos países importadores, diminuiu em abril a sua previsão para a produção de 2008 dos países não filiados, dessa vez em 85 mil barris diários, para 50,5 milhões de barris, por conta da produção menor que a esperada em países como o México, por causa de atrasos na conclusão de novos projetos.
A Opep, enquanto isso, manteve a meta de produção inalterada durante oito meses e rejeitou os pedidos de aumento, mesmo depois que a cotação subiu 54% desde a última vez que o grupo de 13 países elevou a produção, em setembro. A Arábia Saudita, de longe a integrante de mais peso do cartel, também já deu indícios de que não prevê aumento da capacidade de produção depois de 2009.
"Acreditamos que a atual crise energética possa estar chegando ao ápice, já que a falta de crescimento adequado da oferta está se tornando aparente", disse a Goldman Sachs em nota aos clientes. O banco afirmou que certas forças podem levar os preços a uma média de US$ 200 por barril no ano que vem, previsão que pareceria lunática alguns meses atrás.