quarta-feira, 7 de maio de 2008

Previsões apontam petróleo a US$ 150

por Neil King Jr. e Spencer Swartz, The Wall Street Journal
Valor Online
07/05/2008



Os consumidores de petróleo que já sofrem com a alta do custo com combustíveis podem ter ainda mais dificuldades nos próximos meses, porque uma série de fatores, que vão da instabilidade na Nigéria à queda na produção da Rússia, pode levar o preço do barril acima dos US$ 150, segundo um crescente número de observadores do mercado. Preços do petróleo bruto a esse nível seriam um golpe à economia mundial.
O contínuo avanço do petróleo levou vários analistas a divulgar projeções de preço cada vez mais sombrias. A Goldman Sachs, que previu a recente escalada com talvez mais precisão que qualquer outra firma, projeta agora que o mundo pode enfrentar um "super-salto" no qual o petróleo ficaria entre US$ 150 e US$ 200 por barril talvez já em outubro. Ontem, o barril bateu novo recorde e ficou em US$ 121,84 em Nova York, acumulando uma alta de 27% este ano.
"Isso deixaria o petróleo em níveis de preço inéditos mesmo se remontarmos a pouco depois da Guerra Civil americana", diz Stephen Brown, economista do setor energético do Federal Reserve Bank de Dallas. Um petróleo na faixa de US$ 150 cortaria em torno de 1,8% da produção econômica americana no primeiro ano, e outro 1,5% no segundo, estima Brown. A economia americana teve um crescimento anêmico de 0,6% anualizados no primeiro trimestre.
Observadores do mercado dizem que praticamente todos os indícios apontam para a continuidade da alta. Apesar dos rumores de que especuladores impulsionaram a cotação como uma proteção contra a desvalorização do dólar, o petróleo continuou a subir 10% desde a primeira semana de abril, enquanto o dólar se valorizou apenas 2% em relação ao euro.
Ainda mais incomum é o fato de que o petróleo manteve sua sólida alta mesmo diante da queda acentuada da demanda americana, que em fevereiro diminuiu para 19,7 milhões de barris diários - 1 milhão a menos do que a média diária de 2007. Uma recuperação da demanda, talvez fomentada pelo pacote de US$ 152 bilhões do governo para estimular a economia, pode deixar de joelhos um mercado mundial já no limite.
"Não é que um gênio escapou da lâmpada - é que 100 gênios escaparam da garrafa", diz Daniel Yergin, presidente do conselho da Cambridge Energy Research Associates. Conhecida pelo pessimismo de suas previsões, a consultoria agora defende a mais sombria das estimativas que divulgou em 2006, afirmando que a cotação pode chegar a US$ 150 neste ano.
O excedente menor na capacidade mundial de produção, argumenta Yergin, continua a ser o maior fator por trás da alta recente. A maioria das estimativas afirma que a reserva de segurança disponível imediatamente, praticamente toda na Arábia Saudita, está agora em 2 milhões de barris diários - ou apenas 2,3% da demanda diária, o menor nível das últimas décadas.
O mercado petrolífero ficou ainda mais tenso com as más notícias em grandes produtores como Nigéria e Rússia. A Indonésia, antiga integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, anunciou que pode abandonar o cartel no ano que vem, já que sua produção continua a cair para níveis de menos da metade do pico de 1,7 milhão de barris diários, alcançado no início dos anos 90. Desde 2004 que o país é importador líquido de petróleo.
Na Nigéria, na semana passada, uma série de ataques de rebeldes contra a infra-estrutura petrolífera do país e uma greve de petroleiros reforçaram a reputação do país como um dos fornecedores menos confiáveis do mundo. Atos de sabotagem já cortaram pelo menos um quarto da capacidade diária de bombeamento da Nigéria, que é de 2,5 milhões de barris.
O mercado mundial já está acostumado a se decepcionar com os produtores que não pertencem ao cartel, à medida que a falta de investimento e o amadurecimento dos campos em lugares como México e Rússia diminuíram a produção dos países nos últimos anos.
A produção fora da Opep pode crescer 1% este ano, muito menos do que esperam os analistas. A Agência Internacional de Energia, sediada em Paris e financiada pelos países importadores, diminuiu em abril a sua previsão para a produção de 2008 dos países não filiados, dessa vez em 85 mil barris diários, para 50,5 milhões de barris, por conta da produção menor que a esperada em países como o México, por causa de atrasos na conclusão de novos projetos.
A Opep, enquanto isso, manteve a meta de produção inalterada durante oito meses e rejeitou os pedidos de aumento, mesmo depois que a cotação subiu 54% desde a última vez que o grupo de 13 países elevou a produção, em setembro. A Arábia Saudita, de longe a integrante de mais peso do cartel, também já deu indícios de que não prevê aumento da capacidade de produção depois de 2009.
"Acreditamos que a atual crise energética possa estar chegando ao ápice, já que a falta de crescimento adequado da oferta está se tornando aparente", disse a Goldman Sachs em nota aos clientes. O banco afirmou que certas forças podem levar os preços a uma média de US$ 200 por barril no ano que vem, previsão que pareceria lunática alguns meses atrás.

Nenhum comentário: