sábado, 19 de abril de 2008

Brasil vira alvo de investidores, diz Scheinkman

em 18/04/2008 às 20h22m
por Ronaldo D'Ercole de O Globo

SÃO PAULO- A elevação dos juros pelo Banco Central esta semana deve reforçar a condição do Brasil de mercado alvo de operações de "carry trade", pelas quais grandes investidores internacionais emprestam dinheiro a taxas mais baratas lá fora para aplicar aqui, embolsando a diferença. A afirmação é do economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton. Segundo ele, essas operações já fazem parte das estratégias de investimentos de grandes fundos, principalmente dos hedge funds americanos, que combinam aplicações em diferentes ativos com operações nos mercados futuros (derivativos).
- É surpreendente, para os economistas, que essa estratégia funcione tão bem, mas funciona - disse Scheinkman, advertindo: - O carry trade vai acontecer, e as pessoas vão tentar especular com a moeda brasileira.
Segundo o economista, muitos bancos internacionais estão recomendando o Brasil como melhor opção de investimento também a seus clientes comuns. O que só aumenta as fontes de pressão sobre o câmbio.
- Muita dona-de-casa japonesa, pegava suas economias e punha na Nova Zelândia, onde os juros são muito maiores que os do Japão. Agora, alguns bancos já estão dizendo: olha, em vez de botar dinheiro na Nova Zelândia, põe no Brasil.
O economista recusou-se a prever possíveis efeitos desse maior movimento de capitais sobre o câmbio no Brasil. Mas afirmou não ver risco de desequilíbrios nas contas externas do país em razão desse aumento do fluxo de recursos ao país.
- Isso é um exagero, acho que o Brasil deveria voltar a ser um importador de poupança. A única razão por que o Brasil e países como o Brasil são hoje exportadores de poupança é a irresponsabilidade fiscal dos EUA - disse, para concluir, sem entrar em detalhes: - Ser importador de capital é situação que países relativamente pobres, como o Brasil, devem ter.
Em seminário realizado nesta sexta-feira, no Ibmec-SP, Scheinkman chegou a afirmar, irônico, que a retomada da alta nos juros não ajudava muito o país a alcançar o desajado grau de invesmento das agências de risco. Mas, questionado depois se, na sua avaliação, a decisão do BC foi acertada, ou não, foi diplomático.
- Não estou dizendo que a decisão do BC foi errada. O BC tem elementos que eu não tenho e faz projeção da inflação futura baseado em modelos que desconheço - afirmou, advertindo: - Mas é muito importante prestar a atenção à consequência fiscal da política monetária. O reflexo no câmbio também é importante.
Para o economista, ainda, o Brasil sentirá os efeitos da crise no mercado financeiro americano em diferentes áreas. Como as taxas de crescimento do país guardam estreita relação com as taxas de crescimento do resto do mundo, disse, a desaceleração da economia americana deverá afetar a expansão do PIB local. A paralisação das aberturas de capital por empresas brasileiras, acrescentou, revela outra consequência da crise para o país.
- Nós vamos ser afetados tanto do lado do investimento como pelo lado das exportações, da quantidade que vamos conseguir exportar. Tudo vai depender do tempo da continuidade da crise lá fora - disse.

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