sexta-feira, 11 de abril de 2008

Lucro de empresas dobra em 5 anos, mas o ritmo deve cair

por Monica Cardoso de DCI
11/04/08 - 00:00

Os ganhos das empresas brasileiras de capital aberto devem continuar em 2008, porém com menor intensidade. Mais do que a contaminação pela crise norte-americana, a pressão inflacionária deve contribuir para a redução do ritmo de crescimento. "A demanda maior do que a oferta causa um risco inflacionário. Pensando nisso, o Banco Central deve agir preventivamente e aumentar a taxa básica de juros (Selic) na reunião da próxima semana", analisa o economista Cristiano Souza, do Banco Real.
"A crise norte-americana deve afetar o crescimento brasileiro apenas de forma marginal. Nossa crescimento atual é com base na demanda interna", rebate o economista Flávio Serrano, da Lopes Leon Corretora. Segundo ele, o crescimento deve ser mais acentuado no setor financeiro e nas empresas cuja produção é voltada para o consumo doméstico, como bens duráveis e de capital.
O ciclo favorável de crescimento econômico no Brasil e no mundo, nos últimos cinco anos, contribuiu para o dobrar o lucro das 257 companhias brasileiras de capital aberto, (com ações listadas na Bolsa de Valores de São Paulo), que aumentou 100,76%, de acordo com o estudo elaborado pela Economática. Só em 2007, o lucro subiu 20,16%, passando de R$ 102,9 bilhões para R$ 123,7 bilhões. Este foi o melhor resultado das empresas desde o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
O lucro consolidado de R$ 41,5 bilhões de Petrobras e Vale, as duas maiores companhias brasileiras de capital aberto, corresponde a 50,5% do total do lucro registrado pelas demais 255 empresas. Se retirarmos as duas empresas do estudo, o valor alcançado é de R$ 82,2 bilhões, que também é o maior valor já registrado pelas empresas brasileiras de capital aberto no governo Lula. Entre 2003 e 2007, o lucro dessas 255 empresas saltou 139,64%, de R$ 34,3 bilhões para R$ 82,2 bilhões. "A lucratividade de Petrobras e Vale do Rio Doce foi alavancada pela explosão dos preços das commodities graças à demanda forte dos países emergentes, como China e Índia. Esse preço elevado deve continuar mesmo em um possível cenário de recessão norte-americana e desaceleração econômica mundial", avalia o economista Filipe Albert, da Tendências Consultoria.

Mas o melhor desempenho, pelo quinto ano consecutivo, foi do setor bancário, cujos lucros das 21 instituições aumentaram de R$ 12,772 bilhões em 2003 para R$ 28,741 bilhões em 2007. Com metade dos lucros dos bancos, as 30 empresas de energia elétrica embolsaram ganhos que saltaram de R$ 3,494 bilhões para R$ 14,491 bilhões. Em seguida, estão as 26 companhias do setor de siderurgia e metalurgia, cujos proveitos aumentaram de R$ 4,741 bilhões para R$ 11,105 bilhões. Os lucros das 13 companhias de telecomunicações também mais do que dobraram, de R$ 2,694 bilhões para R$ 6,904 bilhões.

Crédito

O crédito foi o principal fator para que o setor bancário fosse o mais lucrativo pelo quinto ano consecutivo. "O aumento da renda e a queda da inflação contribuíram para o maior ímpeto pelo consumo da população, principalmente nas classes menos favorecidas. A partir daí, os bancos se posicionaram de forma diferente, focando nas linhas de crédito ao consumidor, que crescem acima de 20% ao ano", diz Serrano.

Apesar das quedas, as taxas de juros nos empréstimos continuam bastante altas. O Crédito Direto ao Consumidor (CDC) chega a 60% ao ano, enquanto a taxa básica de juros, a Selic, é de 11,25%. E há espaço para crescer mais, segundo ele, uma vez que no Brasil, o valor de crédito representa 35% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto em países desenvolvidos chega a 80% e nos Estados Unidos passa de 100%.

A inflação e a crise americana devem fazer o ritmo de alta nos ganhos das empresas cair em 2008. Nos últimos cinco anos, o lucro das 257 companhias abertas brasileiras dobrou.

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