sábado, 5 de abril de 2008

Meirelles: BC não deve se ater a soluções momentâneas

Meirelles: BC não deve se ater a soluções momentâneas
05.04.2008 13h43

por Célia Froufe, enviada especial da Agência Estado

Em meio a especulações sobre mudanças no regime cambial brasileiro e na meta de superávit primário, além das apostas no mercado financeiro de que haverá elevação dos juros este mês, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse hoje, em Miami, que bancos centrais não devem se basear em medidas populares momentâneas para tomar suas decisões, mas, sim, têm de optar pelo que é melhor para o país e que será popular apenas no futuro. "Subir e descer taxas de juros é algo que faz parte da rotina dos bancos centrais do mundo inteiro. O importante não é o movimento de taxa de juros. O importante é termos inflação na meta, país crescendo, estabilidade e empregos sendo criados", enumerou.
Para que um banco central seja bem-sucedido, na avaliação de Meirelles, não pode ter preocupações de ordem política. "Por dever de ofício, os políticos olham o passado e qualquer banco central tem que olhar o futuro", afirmou a jornalistas, durante participação na 49ª Reunião Anual da Assembléia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). "No passado, o BC tomou medidas que hoje são extremamente populares", defendeu. "E uma das razões do sucesso da economia brasileira hoje é a autonomia do BC do Brasil, concedida e reiterada pelo presidente da República", continuou.
A julgar também pelas expectativas do mercado financeiro, são grandes as chances de uma elevação da Selic (atualmente em 11,25% ao ano) já ser definida na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 15 e 16 deste mês. Se isto ocorrer, o Brasil estará caminhando na direção oposta ao que faz atualmente o BC dos Estados Unidos, o Federal Reserve, mas, movimentos de alta já vistos em outros emergentes é algo que não preocupa Meirelles. "Cada banco central reage à situação da própria economia, e não da economia de outro país. Se os Estados Unidos estão com risco de recessão, o Fed está tomando medidas para isso. Não há política monetária por analogia. Isso não existe", argumentou.

Regime cambial

O presidente do BC também foi enfático ao afastar a possibilidade de alterar o regime cambial flutuante, atualmente em vigor no País, e procurou mostrar alinhamento de opiniões com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, várias vezes durante a entrevista. Ele alega que é justamente esse sistema, ao lado da expansão das reservas internacionais, que proporciona tranqüilidade para que o Brasil faça qualquer ajuste futuro nos juros.
"O que eu posso dizer é que o Brasil tem um regime de metas de inflação que tem funcionado excepcionalmente bem e o regime de metas de câmbio é incompatível com o sistema de metas de inflação", argumentou, lembrando que países que tentaram criar um regime de metas de câmbio disfarçado também tiveram problemas inflacionários graves. "O Brasil tem sistema de metas de inflação, está comprometido com isso e não adotará regime (cambial) para comprometer um regime de metas de inflação", afirmou, acrescentando que uma declaração similar a esta também já foi feita pelo ministro Mantega.
Nada impede, no entanto, segundo Meirelles, que o governo tome uma ou outra medida setorial na área do câmbio visando à atividade de fomento para diversos setores que possam ser prejudicados pela conjuntura. "Não estou anunciando nada novo. Estou fazendo uma exposição teórica, depois de tudo o que já foi feito, discutido. Não tenho conhecimento de nenhuma medida em preparação", apressou-se em declarar. Para ele, a cotação do dólar compete ao mercado financeiro e, se houver qualquer questão de desconforto, a mesma será corrigida por esses agentes.

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