quarta-feira, 21 de maio de 2008

Carteiras de ações saem do vermelho e voltam a crescer

por Adriana Cotias e Danilo Fariello de Valor Online
21/05/2008

Pela primeira vez no ano, captação e rentabilidade acumuladas dos fundos de ações têm sinal positivo. Os investidores reagiram à melhora da classificação de crédito brasileiro e ao bom desempenho da Bovespa e voltaram a demonstrar apetite por risco. Em maio, até o dia 16, as carteiras de renda variável atraíram R$ 506 milhões, segundo dados do site financeiro Fortuna. A movimentação reverteu um saldo que tinha se tornado negativo no ano para um ingresso total de R$ 42 milhões. O dinheiro novo acompanhou a retomada de um rendimento de 10,39% em maio e de 9,87% em 2008.
Ao longo do primeiro trimestre, os investidores bem que resistiram aos maus tempos do mercado acionário e mantiveram seus aportes, na crença de que cedo ou tarde a recuperação viria. Em abril, justamente quando o índice inverteu a direção e apontou para cima, os resgates prevaleceram. Em maio, já sob os holofotes do grau de investimento e com o Ibovespa batendo recorde atrás de recorde, as captações começaram a responder.
Nos últimos nove meses, desde a crise das hipotecas americanas de alto risco, os investidores tiveram de aprender a lidar com um ambiente mais volátil. Aqueles com menos estômago acabaram migrando para carteiras mais conservadoras, como os fundos de renda fixa e atrelados ao CDI. Os que estão entrando agora são, portanto, aplicadores mais preparados para enfrentar todo esse sobe-e-desce e chegam com um viés de médio e longo prazo, diz o vice-presidente da SulAmérica Investimentos, Marcelo Pimentel Mello. "É um perfil que entende que a maior volatilidade pode trazer retornos superiores ao do CDI ao longo do tempo e sabe o que esperar dos momentos mais adversos."
O selo de investimento não-especulativo, conferido pela Standard & Poor's no fim de abril , se confirmado por outra agência de classificação de risco, fará com que Brasil entre no radar de aplicadores internacionais que até agora não investem aqui, como os fundos de pensão americanos. Junto com os bons fundamentos das companhias brasileiras, isso deve representar dinheiro novo para a bolsa e é essa combinação que os investidores locais estão tentando antecipar, acrescenta Mello. Para ele, setores ligados ao mercado interno, como logística, bancos, varejo e construção civil são os mais favorecidos, apesar do ciclo recente de aperto monetário.
Apesar da alta temporária da taxa básica, o investidor faz bem em optar por fundos de ações, porque a tendência é que a Selic volte a cair, diz Wagner Salaverry, da Geração Futuro. "Não dá para considerar que o Brasil continuará pagando juro tão alto sendo grau de investimento", afirma. Por isso, defende, os investidores devem continuar migrando da renda fixa para a variável. "Mas não é possível esperar e adivinhar o momento em que isso vai virar de novo (a trajetória do juro)."
Além da expectativa de que a Selic tornará a cair, o fato de as empresas brasileiras terem apresentado bons números recentemente - principalmente nos setores automobilístico, de mineração, petróleo e logística - e a expectativa de continuação de entrada e estrangeiros favorecem as apostas em bolsa.
No começo do ano, os aplicadores, principalmente os mais novos, ficaram temerosos e se retraíram. Tanto que o principal fundo da Geração, o Programado FIA, apresentou crescimento no número de cotistas em todos os meses, mas resgates líquidos em abril. O "investment grade" mudou essa rota. "Quem já investia colocou mais e quem não investia começou."

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