segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Bovespa ignora euforia nos EUA e cai 2,35%

por Claudia Violante da Agência Estado
08.09.2008 17h43

A Bolsa de Valores de São Paulo ficou de fora da festa que a ajuda do governo norte-americano às agências de hipotecas Freddie Mac e Fannie Mae proporcionou às bolsas mundiais nesta segunda-feira. Depois de engatar uma alta superior a 3% na abertura, o índice Bovespa mudou de rumo perto da hora do almoço com o enfraquecimento principalmente das ações de Petrobras, Vale e siderúrgicas, e fechou com queda próxima a 2%, novamente no menor patamar de pontuação em mais de um ano.
Os investidores titubearam ao enumerar as justificativas para a queda: realização de lucros, venda de estrangeiros, enfraquecimento das commodities. Também repetiram a explicação ouvida nas mesas no exterior: o anúncio ontem nos EUA não encerra a crise norte-americana.
O Ibovespa terminou o pregão em baixa de 2,35%, na segunda maior queda do mês (a maior foi na quinta-feira, de -3,96%), aos 50.718,0 pontos, menor nível desde os 49.815,1 pontos de 21 de agosto do ano passado. O Ibovespa oscilou hoje entre a mínima de 50.646 pontos (-2,49%) e a máxima de 53.706 pontos (+3,40%). No mês, acumula perdas de 8,91% e, no ano, de 20,61%. O volume financeiro somou R$ 5,14 bilhões.
"O mercado avalia que as medidas que o governo dos EUA anunciou ontem não são suficientes para enfrentar a desaceleração econômica, ainda que evitem uma crise financeira mais grave", comentou, em e-mail, a sócia-gestora da Global Equity, Patrícia Branco. Segundo ela, como a recessão americana continua na mira, o cenário é de aversão a risco, "o que conduz à queda da bolsa brasileira".
A notícia da ajuda de até US$ 200 bilhões às agências hipotecárias norte-americanas fez o dólar se fortalecer ante outras moedas e, em boa parte do dia, levou o petróleo para baixo. O contrato futuro de petróleo com vencimento em outubro negociado na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex, na sigla em inglês) recuperou-se no final e subiu 0,10%, aos US$ 106,34, mas as ações da Petrobras derreteram 4,65% (ON) e 5,02% (PN). A Vale, a outra blue chip do pregão, também não ficou atrás e caiu 3,63% (ON) e 3,46% (PNA).
O setor financeiro doméstico foi um dos destaques de elevação, seguindo as ações das financeiras nos Estados Unidos. Bradesco PN subiu 2,15%, Itaú PN, 1,01% e Unibanco units, +1,18%. BB ON caiu 2,44%.
Não foi apenas o segmento financeiro a subir nos EUA: o índice Dow Jones terminou em alta de 2,58%, aos 11.510,7 pontos, o S&P 500 avançou 2,05%, para 1.267,79 pontos, e o Nasdaq teve elevação de 0,62%, aos 2.269,76 pontos. Na Europa, o desempenho também foi parecido: a Bolsa de Paris subiu 3,42%, Frankfurt, 2,22%, e Londres, 3,92%.
"O mercado doméstico está muito machucado. O pacote (nos EUA), claro, foi positivo, mas a sensação que fica é a de que a ajuda esconde os problemas embaixo do tapete", comentou Rafael Moysés, gestor da corretora Umuarama.
Por esta razão, os efeitos da ajuda pode se dissipar rapidamente e, para os próximos dias, os investidores voltem a olhar os velhos problemas. A agenda segue no foco - amanhã o presidente do Fed discursa sobre educação e saem os estoques no atacado e vendas de imóveis pendentes. As atenções nesta terça-feira também estarão voltadas para a reunião da Opep, que discutirá as metas de produção de petróleo dos países-membros.

Nenhum comentário: