quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Bolsa fecha em queda de 11,39%, a maior em 10 anos

por equipe da Agência Estado
15 de Outubro de 2008 18:12


A Bovespa voltou a registrar perdas expressivas hoje, afetada pela desvalorização das matérias-primas e pela queda dos índices acionários norte-americanos, diante da piora da perspectiva para a economia mundial. A sessão também foi marcada pelos vencimentos de opções sobre Ibovespa e do índice futuro e por nova interrupção dos negócios pelo mecanismo de circuit breaker. Em razão da parada da Bolsa por 30 minutos em um dia de vencimentos relacionados ao índice, o pregão foi estendido para as 17h30.
A apenas 40 minutos de fechar o pregão, a Bovespa fez os investidores prenderem a respiração, diante da possibilidade de que o Ibovespa atingisse uma queda de 15% e assim a Bolsa acionasse novamente no dia o mecanismo de circuit breaker. O "fôlego" só foi retomado quando o relógio marcou 17 horas - por questão do regimento da bolsa, o mecanismo de circuit breaker não é acionado na última meia hora de negociação.
Ainda assim, o Ibovespa registrou a maior perda porcentual desde 10 de setembro de 1998, ao encerrar a jornada com declínio de 11,39%, aos 36.833,02 pontos. Naquela data, caiu 15,8%. Hoje, o índice oscilou de 35.411 pontos na mínima (-14,81%) a 41.567 pontos na máxima (estável). O volume financeiro somou R$ 9,73 bilhões.

"Não há boas notícias para a Bolsa no Brasil", alertou o estrategista-chefe para América Latina do Barclays em Nova York, Paulo Hermanny, em entrevista à Agência Estado. De acordo com o profissional, apesar da correção de baixa muito forte pela qual as ações brasileiras passaram deixar papéis de algumas empresas baratos, há um cenário de recessão nos Estados Unidos e mundial, de menor crescimento no Brasil, de commodities (matérias-primas) com preços mais baixos. E o comportamento do mercado acionário paulista hoje referenda tal percepção.
Após uma onda de euforia, em meio a medidas para capitalizar o sistema bancário na Europa e EUA, declarações sobre o cenário da economia norte-americana e indicadores sobre a mesma reavivaram as preocupações sobre o tamanho da recessão estimada para aquele país, bem como os reflexos sobre o mundo. "A economia norte-americana parece estar em recessão", já que as pressões inflacionárias "diminuíram substancialmente", disse a dirigente da regional do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de São Francisco, Janet Yellen.
O próprio presidente do Fed, Ben Bernanke, também colaborou para ampliar os temores dos investidores, ao alertar que os mercados de crédito levarão tempo para descongelar e que, mesmo se os mercados financeiros se estabilizarem, a economia não irá se recuperar logo em seguida. Da agenda macroeconômica, as vendas no varejo caíram em agosto acima do esperado, o núcleo do índice de preços ao produtor (PPI) que exclui alimentos e energia, superou a previsão dos analistas e o índice Empire State caiu para -24,62, patamar recorde de baixa.
Ainda, o Livro Bege, sumário das condições econômicos americanas preparado pelo Fed, também mostrou que a atividade econômica e o mercado de empregos sofreram um enfraquecimento em todos os 12 distritos do Federal Reserve em setembro.
Em Nova York, o índice acionário Dow Jones caiu 7,87% - a maior queda porcentual desde outubro de 1987; o S&P-500 recuou 9,03%; e o Nasdaq Composite cedeu 8,47%.
Balanços corporativos também ocuparam as atenções dos investidores em Nova York. O JPMorgan Chase reportou queda de 84,5% no seu lucro líquido no terceiro trimestre deste ano, para US$ 527 milhões. A receita caiu para US$ 14,74 bilhões, de US$ 18,4 bilhões. O executivo-chefe da instituição, Jamie Dimon, afirmou que espera lucros menores nos próximos trimestres.Ainda no setor bancário, o Wells Fargo & Co. registrou queda de 22% no lucro líquido do terceiro trimestre deste ano, para US$ 1,64 bilhão.

Ações

A deterioração nas expectativas para a atividade econômica global afetou também as commodities, o que elevou a pressão de baixa no Ibovespa, que tem como carros-chefe ações de empresas atreladas aos preços desses produtos. Na Bolsa Mercantil de Nova York, o petróleo cedeu 5,20%, a US$ 74,54 o barril. Metais e agrícolas também recuaram. As ações da Petrobras sentiram: as PN caíram 12,09% e as ON perderam 13,85%. O impacto sobre os papéis da Vale não foi diferente: queda de 15,16% nas PNA e declínio de 18,58% nas ON.
As siderúrgicas também sofreram hoje: Usiminas PNA perdeu 14,52%, CSN ON cedeu 17,11% e Gerdau PN teve baixa de 14,90%. O setor bancário igualmente apresentou baixas significativas: Bradesco PN caiu 8,03%, Banco do Brasil ON, 10,45%, Itaú PN, 10,99% e Unibanco units, 12,50%.
No Ibovespa, as quedas foram lideradas por: JBS ON (-22,45%), Gafisa ON (-21,21%) e B2W ON (-20,68%). Apenas três ações registraram valorização: Telemar PN subiu 5,30%, Brasil Telecom Participações PN avançou 2,42% e Telemar Norte Leste PNA apreciou-se 2,18%.

Circuit breaker

A forte baixa do índice levou a Bovespa a acionar o circuit breaker pela terceira sessão do mês de outubro e interromper às 14h25, por 30 minutos, as operações. Naquele momento, o Ibovespa alcançou queda de 10%, aos 37.412 pontos. Após quase dez anos sem acionar o circuit breaker, a Bolsa precisou lançar mão dele no dia 29 de setembro e, depois, em outubro, em dois pregões (dias 6 e 10), além do de hoje. No dia 6, o circuit breaker foi usado duas vezes, por 30 minutos (queda de 10%) e uma hora (baixa de 15%).
O circuit breaker é o mecanismo utilizado pela Bovespa que permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento e o rebalanceamento das ordens de compra e de venda. Esse instrumento constitui-se em uma "proteção" à volatilidade excessiva em momentos atípicos de mercado.

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