terça-feira, 4 de novembro de 2008

Pesquisas indicam vitória de Obama na corrida pela Casa Branca

por Angela Pimenta - Portal EXAME
04.11.2008 8h46

Tanto as pesquisas de opinião quanto os analistas indicam que a crise do subprime – a mais grave desde a Grande Depressão, na década de 1930 – deve garantir hoje a vitória do democrata Barack Obama contra seu oponente republicano, John McCain, na corrida pela Casa Branca, além de um aumento significativo da maioria democrata no Congresso americano.

“O Obama deverá ter uma vitória mais folgada do que prevêem as pesquisas,” disse o brasilianista Albert Fishlow, da Universidade Columbia, ao Portal EXAME. “A crise atual tem gerado um clima tão deprimente entre os americanos que todo mundo quer rejeitar as políticas de Bush. E contra isso, não há nada que o McCain possa fazer”.

Para o Instituto Gallup, Obama tem a preferência de 55% dos eleitores, enquanto McCain conta com 44% do eleitorado. Já a sondagem conjunta da rede de TV NBC e do “Wall Street Journal” aponta que Obama terá 51% dos votos, contra 43% para McCain.

Tais números dizem respeito aos prováveis eleitores. Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos, o voto é facultativo. Além disso, a eleição presidencial americana é definida pelo Colégio Eleitoral, em que cada um dos cinqüenta estados do país tem um peso diverso na contagem final dos votos.

Para ganhar a Presidência, são necessários 270 de um total de 538 votos no Colégio Eleitoral. Segundo as últimas projeções da rede CNN, Obama já conta com 291 votos – que já lhe garantiriam a vitória – enquanto McCain tem 157 votos. Os demais 90 votos do Colégio Eleitoral permanecem indefinidos.

Ciente de sua desvantagem, nos últimos comícios, John McCain tem dito que “nós vamos virar essa eleição, desmentindo as pesquisas e esses analistas metidos a sabichões”. O republicano aposta suas fichas nos eleitores indecisos, que seriam cerca de 7% do total dos votantes, segundo as pesquisas.

Mas a confiança de Barack Obama na vitória é tamanha, que apesar de insistir para que os eleitores compareçam às urnas, o candidato democrata já prepara um mega-comício da vitória na noite desta terça-feira no centro da cidade de Chicago, no Illinois. Obama representa o estado no Senado americano.

“Conto com a sua presença por lá,” diz Obama num e-mail enviado a milhões de correligionários e potenciais doadores. “Esse movimento da mudança é um testemunho do poder dos americanos comuns se juntarem para conquistar coisas extraordinárias”.

Transição

Em meio à crise econômica, diante da potencial vitória de Obama tanto o mercado quanto os analistas já estão focados na fase de transição do governo Bush para um virtual governo democrata.

Segundo o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de economia e professor da Universidade Columbia, a vitória de Obama não trará alívio imediato para os mercados e tampouco terá o poder de sinalizar o começo de uma recuperação econômica.

“Esta não é apenas uma crise de confiança e o próprio Obama tem dito não existem milagres nessa área”, disse Stiglitz ao Portal EXAME.

Para Albert Fishlow – cuja opinião é compartilhada por Stiglitz e grande parte dos analistas de mercado – a recuperação deverá começar por volta de junho de 2009, quando os pacotes de estímulo à economia começarem a surtir efeito.

“Já existe um consenso entre os democratas e o próprio Obama de que o país precisa de mais um pacote de estímulo, da ordem de 2% a 3% do PIB americano, voltado para a infra-estrutura e para trazer alívio aos mutuários em dificuldade”, disse Stiglitz. “O pacote do governo Bush aprovado pelo Congresso ajudou os bancos, que depois de receber o dinheiro, não voltaram a emprestar”.

“Tudo vai depender da boa vontade de Bush e do tamanho da derrota republicana no Congresso. Se a vitória democrata for esmagadora, ficará mais difícil para o Bush vetar um novo pacote”.

Stiglitz, que dirigiu o Conselho Econômico da Casa Branca no primeiro mandato de Bill Clinton, tem aconselhado a equipe econômica de Obama em dois aspectos: o pacote de estímulo e uma reforma no sistema regulatório de Wall Street.

Na semana passada, testemunhei no Congresso sobre a necessidade urgente de criarmos novas regras para o mercado de derivativos. Precisamos aprimorar questões relativas à transparência e à divulgação de dados, além da criação de comissões para conferir estabilidade ao sistema e segurança para produtos oferecidos pelo mercado financeiro”, diz.

Tesouro e impostos

De acordo com a imprensa americana, logo depois de eleito, Obama deverá anunciar sua equipe econômica. Os nomes mais cotados para assumir o cargo de secretário do Tesouro americano, o mais poderoso do Poder Executivo americano, são os do economista Larry Summers, atual professor da Universidade Harvard e ex-secretário do Tesouro americano no segundo mandato de Bill Clinton, e o atual prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.

Mas Bloomberg tem declarado que prefere se candidatar mais uma vez à prefeitura de Nova York, no final de 2009. Outros nomes citados pertencem à equipe de jovens conselheiros econômicos de Obama: Austan Goolsbee, da Universidade de Chicago, e Jason Furman, da Universidade de Nova York.

Se Obama de fato se eleger, uma das primeiras medidas a serem anunciadas deverá ser uma promessa de campanha: o corte de impostos para que ganha até 250 000 dólares por ano, cerca de 95% da população americana. Já a camada mais rica dos contribuintes sofreria um aumento de impostos. Obama também tem declarado que pretende aumentar os impostos para ganhos de curto prazo nos mercados de capitais.

Segundo a campanha de John McCain, tais medidas pretendem implantar o sistema socialista nos EUA. Mas tal visão é contestada pelo bilionário Warren Buffett, um dos mais entusiasmados cabos eleitorais do candidato democrata. "Obama vai levar idéias extraordinárias para o novo governo”, declarou Buffett recentemente.

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