sexta-feira, 4 de abril de 2008

Boom atual de commodities é o mais benéfico, diz o FMI

Boom atual de commodities é o mais benéfico, diz o FMI
por Ricardo Balthazar de Valor Economico
04/04/2008

Países emergentes como o Brasil, que tiraram enorme proveito da valorização de suas matérias-primas nos últimos anos, estão bem preparados para enfrentar as consequências que o fim da exuberância nos mercados de commodities terá para suas economias, sugere um estudo divulgado ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
A explosão dos preços do petróleo, dos metais e de produtos agrícolas contribuiu muito para elevar as exportações dos países em desenvolvimento nos últimos anos. Mas o FMI acredita que a integração das economias emergentes no comércio mundial continuará crescendo mesmo depois que a festa das commodities terminar.
Os economistas do Fundo analisaram o comportamento de dezenas de países num período de quatro décadas e compararam seu desempenho nos últimos anos com o que ocorreu em outros ciclos de valorização das matérias-primas no passado. A conclusão é que o ciclo atual tem se revelado muito mais benéfico do que os anteriores para os países emergentes.
Segundo o estudo, economias que sempre foram muito dependentes da exportação de matérias-primas estão aproveitando o ciclo atual para se diversificar, ampliando as vendas de produtos manufaturados e explorando novos mercados, o que ajuda a torná-las mais resistentes a choques externos e aos efeitos de uma redução da demanda nos países avançados.
Segundo os economistas do FMI, a integração dos países emergentes no comércio e nos fluxos internacionais de capital tende a continuar crescendo porque outros fatores, como a adoção de políticas macroeconômicas prudentes e a eliminação de barreiras comerciais, têm contribuído mais para o crescimento das exportações desses países do que as commodities.
No Brasil, as exportações de produtos básicos cresceram mais do que as de produtos industrializados nos últimos anos. De 1999 para cá, as vendas de matérias-primas quadruplicaram e as exportações de produtos manufaturados triplicaram, de acordo com as estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A valorização das matérias-primas no mercado internacional desde a virada do século foi espantosa. O preço do petróleo subiu 210% nos últimos seis anos. A alta do cobre foi de 212%. Os preços da soja subiram 84% nos últimos três anos. Segundo o FMI, o ciclo atual tem sido mais duradouro que os anteriores e mais abrangente, beneficiando um número maior de produtos e países exportadores.
Sinais de que o vento pode estar mudando de direção surgiram nas últimas semanas, quando os preços de alguns produtos caíram com a turbulência nos mercados financeiros e a preocupação dos investidores com a desaceleração da economia mundial. Mas muitos analistas acreditam que essas oscilações não representam muita coisa e observam que a demanda por matérias-primas continua aquecida em lugares como a China.
"Não consigo lembrar de uma época em que tenha visto uma dicotomia tão espantosa entre as commodities e os mercados de crédito", disse ontem o economista-chefe do FMI, Simon Johnson. Em outubro, o Fundo previu que o petróleo continuaria em alta neste ano mas os preços das demais commodities sofreriam uma queda de 6,7%. O FMI divulgará projeções mais atualizadas na próxima semana.
Além da forte demanda dos países asiáticos, há outras explicações para o comportamento das commodities. Os investimentos que poderiam aumentar a oferta de matérias-primas têm ocorrido lentamente, lembra o FMI. Muitos investidores têm especulado nos mercados de commodities em busca de proteção contra a desvalorização do dólar e os problemas nos mercados de crédito, contribuindo para manter as matérias-primas em alta.
A explosão dos preços das commodities tem gerado pressões inflacionárias no mundo inteiro, provocando aumentos especialmente nos preços dos alimentos. Mas sua continuidade pode ajudar os países emergentes a continuar crescendo apesar dos problemas nos Estados Unidos e em outros lugares. "Mesmo que os preços caiam um pouco agora, não será um grande problema", afirmou Johnson.

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