quarta-feira, 2 de abril de 2008

Mercado padece à espera de Selic maior

Mercado padece à espera de Selic maior
02/04/2008
por Daniele Gamba de Valor Online




O mercado ontem subiu de forma acentuada com um sentimento generalizado de que o pior da crise americana já passou e que os anúncios de grandes prejuízos de bancos internacionais podem estar próximos do fim. O Índice Bovespa fechou em alta de 2,96%, aos 62.774 pontos. Se o cenário externo vem dando uma certa trégua, agora é a vez do local causar preocupação. É inegável como as ações nos últimos dias estão sofrendo por conta da expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) irá subir a taxa básica de juros em sua próxima reunião, nos dias 15 e 16 deste mês. Com uma atividade econômica forte e alguns sinais de pressão inflacionária, ainda que localizados, não é absurdo supor que pode haver um aperto monetário para que tal situação não tome proporções indesejáveis. Como não se sabe qual será o tamanho da dose do remédio, no caso a alta dos juros, para evitar que o resfriado se torne uma pneumonia, os investidores preferem se antecipar, reduzindo suas posições em bolsa.
Esse movimento, no entanto, não acontece de forma homogênea no pregão inteiro. As ações dos setores que são mais sensíveis a uma puxada dos juros, como varejo, consumo e imobiliário, estão sentindo muito mais essa deterioração das expectativas sobre a política monetária brasileira.
Alguns papéis desses setores caíram muito em março, mas especialmente na última semana, quando o temor de alta da Selic ficou mais latente. Os números falam por si. Os papéis do setor imobiliário caíram, em média, 20% em março. As ações ordinárias (ON, com voto) da Tenda, por exemplo, caíram 30,43% em março e 9,56% desde segunda-feira da semana passada. Já as ONs da Rossi se desvalorizaram 21,87% no mês passado e 11,12% desde a última segunda.
Para o sócio da Bresser Asset Management, Rodrigo Bresser-Pereira, parece mais provável que o governo faça apenas um ajuste pontual nos juros. "Essa mexida cirúrgica não deve reverter o cenário de expansão do crédito que tanto impulsionou o setor imobiliário, mas é razoável as ações caírem para se ajustar a essa mudança no rumo da política monetária", diz. Ele lembra que as construtoras vêm sinalizando que já há uma certa fadiga na demanda por imóveis, o que precisa ser monitorado para saber se o crescimento imobiliário não é menor do que se esperava.
Nesse momento mais espinhoso para os setores correlacionados com a taxa de juros, as ações de commodities podem ser a opção mais sábia. "O ciclo de alta das commodities pode ter acabado, mas isso não significa que deve começar um ciclo de baixa, o mais provável é que os preços se estabilizem num nível alto, o que não é nada mau", afirma Bresser-Pereira. Sobre o bom desempenho da bolsa ontem, mesmo com o anúncio de grandes prejuízos de alguns bancos internacionais, ele tem uma boa definição: "A explicação para a alta de hoje pode ser a justificativa para a queda de amanhã."

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