segunda-feira, 23 de junho de 2008

BC prevê que entrada de investimento direto cobrirá déficit em transações correntes

por Valor Online
23/06/2008 17:45

BRASÍLIA - A trajetória de aumento do déficit nas transações correntes externas em 2008, cuja projeção saiu de US$ 12 bilhões para US$ 21 bilhões, não preocupa o Banco Central (BC). "Não se espera que o crescimento seja explosivo", afirmou o chefe do Departamento Econômico, Altamir Lopes. Ele se mostrou "seguro" de que o déficit será "totalmente financiado" com investimento externo direto (IED), que também teve a estimativa elevada de US$ 32 bilhões para US$ 35 bilhões no ano.
"O que se espera é a continuidade do IED, que está fluindo bem", declarou o técnico. Em sua visão, as fortes pressões de remessas de lucros e dividendos, do saldo negativo com viagens internacionais e das aceleradas importações serão cobertas com recursos de médio e longo prazos (IED) e também pelo aporte de capital mais volátil, já que as estimativas para o investimento estrangeiro em papéis domésticos e ações subiu de US$ 12 bilhões para US$ 25 bilhões.
A se configurar a conta corrente deficitária em US$ 21 bilhões, será o pior patamar dos últimos sete anos, desde os US$ 23,2 bilhões negativos em 2001. Para junho, Lopes prevê resultado negativo de US$ 1,2 bilhão, o dobro do déficit de US$ 649 milhões registrado em maio.
O argumento da autoridade monetária é o de que apesar da conta corrente acumular déficit de US$ 14,717 bilhões de janeiro a maio e subir a US$ 15,9 bilhões em junho, o IED deve "cobrir" esse rombo já ao fim deste primeiro semestre.
Até maio isso não ocorreu, porque o IED acumulou US$ 13,984 bilhões no ano. Mas estão previstos US$ 3 bilhões para junho, dos quais US$ 2,2 bilhões já ingressaram no mês até hoje. Ou seja, o IED deve subir a US$ 16,98 bilhões ao fim deste mês.
O BC também aposta na alta das aplicações externas em renda fixa e ações, principalmente ações, por influência do selo de grau de investimento (investimento seguro) que o Brasil recebeu de duas agências de classificação de risco. "Nossa projeção é qualitativa, por já ter um volume significativo acumulado e a expectativa de atração de grandes fundos de pensão", disse Lopes.
Os registros apontam que esses chamados investimentos em portfólio acumulavam US$ 12,89 bilhões nos primeiros cinco meses do ano. No mês de junho até hoje já ingressaram US$ 1,268 bilhões para o mercado acionário e US$ 631 milhões em títulos de renda fixa, elevando o total no ano para US$ 14,7 bilhões.
Lopes sustenta ainda que a tendência é de melhora no segundo semestre, pela redução sazonal, por exemplo, das remessas de lucro e dividendos, que se concentram no início do ano e acumularam US$ 15,596 bilhões até maio. Para junho, a projeção é de que essas saídas caiam pela metade, saindo de US$ 3,238 bilhões em maio, para US$ 1,6 bilhão este mês. Do início de junho até hoje, já foram remetidos US$ 1,26 bilhão.
Outro fator favorável, segundo ele é a perspectiva de "acomodação" das importações, cujo aumento até maio foi de 46,3% sobre período igual de 2007, mas que tem projeção do BC para encerrar o ano com variação de 30,2% sobre o ano passado. As importações tiveram a estimativa elevada de US$ 155 bilhões para US$ 157 bilhões, mantendo-se as exportações em US$ 182 bilhões (+13,3%) e a consequente redução do saldo comercial para US$ 25 bilhões no ano.
Já o saldo negativo das viagens internacionais foi reestimado de US$ 4 bilhões para US$ 5 bilhões no ano, tendo registrado até maio o déficit recorde de US$ 2,014 bilhões. As despesas de brasileiros no exterior somaram US$ 4,487 bilhões e as receitas de estrangeiros no país, US$ 2,473 bilhões, ambos valores históricos para o período. Em junho até hoje o fluxo líquido está negativo em US$ 472 milhões, segundo o Banco Central.

Nenhum comentário: