quarta-feira, 16 de julho de 2008

BC responderá "vigorosamente" à inflação

por Alex Ribeiro de Valor Online
16/07/2008


Uma semana antes da reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, elevou um pouco mais o tom de ameaça, indicando que poderá intensificar o ritmo de alta dos juros. Ele repetiu três vezes, em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que autoridade monetária saberá responder "vigorosamente" às mudanças no cenário inflacionário.
Na semana passada, Meirelles já havia sinalizado uma política monetária mais inflexível, ao afirmar, em evento realizado em São Paulo, que a ação do Copom visa baixar a inflação para o centro da meta, estabelecido em 4,5%, ainda em 2009. Ontem, ele renovou esse propósito. "O BC está comprometido em fazer o que for necessário, enquanto for necessário, para trazer a inflação para o centro da meta em 2009", afirmou. "O BC avalia que não há vantagens em continuar com uma inflação alta."
A mensagem do BC é que irá promover um processo desinflacionário relativamente rápido. Os analistas do mercado financeiro esperam que o BC faça uma convergência mais suave da inflação para a meta. A expectativa mediana é que a inflação fique em 6,48% em 2008, 5% em 2009 e 4,5% apenas em 2010. Sobre 2008, Meirelles disse que o BC está fazendo tudo que está ao seu alcance para a inflação seja a mais baixa possível. Mas ele ponderou que a política monetária atua com defasagem e que as decisões tomadas até agora terão seu efeito mais importante sobre a inflação no fim deste ano e no início do próximo.
No depoimento, senadores questionaram se o crescente déficit em conta corrente não poderia levar a desequilíbrios externos. Meirelles disse que o BC está agindo de três formas. Primeiro, pela própria alta dos juros, que segura o consumo e os investimentos e reduz o crescimento das importações. Segundo, disse, o BC age pela simplificação das regras cambiais, que reduzem os custos de transação e incentivam as exportações.
O presidente do BC disse que outra linha de ação é pelo acúmulo de reservas cambiais e pela compra de dólares no mercado futuro, que deixam a economia menos vulnerável no caso de os investidores suspenderem repentinamente o financiamento do déficit em conta corrente.
Meirelles ponderou que, em um regime de câmbio flutuante, a cotação do dólar não tende a ficar muito tempo fora de seu equilíbrio, gerando déficits em conta corrente. Segundo ele, os investidores estrangeiros fazem seus próprios cálculos sobre o déficit em conta corrente que é financiável no curto longo prazo, promovendo correções automáticas no caso de desequilíbrio. Na visão de Meirelles, pode-se esperar que, no futuro, a taxa de câmbio sofra alguma depreciação. Ele disse que, nos últimos anos, o governo vem registrando prejuízo porque tem posição comprada em câmbio e o real está se valorizando. Mas, em algum momento, afirmou, é provável que ocorra justamente o contrário: que o governo passe a registrar ganhos com a depreciação do câmbio.
Segundo Meirelles, o BC está atento à ligeira deterioração na inadimplência em alguns segmentos de crédito. Mas ponderou que o índice geral é positivo. Algumas famílias tomaram mais de um financiamento e estariam enfrentando dificuldades, num contexto de alta de inflação, que corrói a renda real. "O melhor que o BC pode fazer para evitar uma piora da inadimplência é controlar a inflação."

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