terça-feira, 29 de julho de 2008

Juros altos voltam a atrair volumes elevados de capitais estrangeiros

por Alex Ribeiro de Valor Online
29/07/2008

Os altos juros vigentes dentro do país voltaram a atrair volumes maciços de capitais estrangeiros, mostram estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. Em julho, faltando três dias para terminar o mês, já entraram US$ 3,227 bilhões dirigidos a aplicações de renda fixa, sobretudo a compra de títulos públicos. É mais do que três vezes os valores ingressados em junho. O BC diz que, em grande parte, as entradas de recursos em renda fixa reflete a realocação de carteiras. Investidores resgataram recursos aplicados em ações dentro do país (US$ 3,495 bilhões) para aplicá-los em renda fixa.
De qualquer forma, o retorno ao país dos capitais considerados especulativos representa o fracasso da taxação imposta em março pelo Ministério da Fazenda para tentar estancá-lo. Na ocasião, foi criada uma alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1,5% sobre a entrada de recursos de estrangeiros dirigidos a renda fixa.
Em fevereiro, essas aplicações haviam chegado a US$ 3,036 bilhões, o que, na visão da Fazenda, contribuía para acentuar a tendência de apreciação do câmbio. Em março, os ingressos aumentaram ainda mais, para US$ 4,276 bilhões, apenas porque o governo resolveu anunciar a medida antes de entrar em vigor, o que estimulou parte dos investidores estrangeiros a antecipar o ingresso de dólares no país. A medida, porém, foi eficaz para reduzir os ingressos de investimentos estrangeiros em renda fixa nos dois meses seguintes. Em março, entraram apenas US$ 230 milhões e, em abril, US$ 36 milhões.
A partir de março, porém, o BC iniciou um ciclo de contenção monetária, o que aumentou a remuneração dos títulos públicos. De março para cá, a taxa básica subiu de 11,25% ao ano para 13% ao ano, e os papéis prefixados do Tesouro Nacional vêm pagando taxas tão altas quanto 15% ao ano. A remuneração mais atrativa trouxe de volta os investidores estrangeiros. Em junho, os ingressos líquidos somaram US$ 902 milhões. E, em julho, nas estatísticas parciais, que cobrem até o dia 28, voltaram aos patamares observados antes da taxação com IOF, com US$ 3,227 bilhões.
A alta na taxa de juros acabou desfazendo o trabalho de desestimular os ingressos feito pelo IOF. Os investidores pagam uma alíquota de 1,5% sobre os ingressos de capital. Antes da taxação, eles tinham um remuneração líquida de 11,25% ao ano. Depois da taxação, passaram a ficar com 11,25% ao ano menos o 1,5% do IOF, o que grosso modo representa 9,75% ao ano. Depois que o BC subiu os juros, os investidores estrangeiros recebem 13% ao ano menos 1,5%, o que equivale, grosso modo, a 11,5% ao ano.
Ao contrário do que aconteceu no inicio do ano, porém, o fluxo de investimentos estrangeiros em renda fixa ajudou a financiar o balanço de pagamentos. Em julho, até o dia 24, está sendo observado um déficit de US$ 2,411 bilhões no mercado de câmbio contratado. Sem os capitais dirigidos a renda fixa, o déficit seria bem maior. No início do ano, os investimentos estrangeiros aumentavam a abundância de dólares no mercado.
Os investimentos em renda fixa ajudaram também a contrabalançar a forte saída de estrangeiros que aplicavam no mercado doméstico de ações. No mês, até o dia 28, as remessas líquidas ao exterior de investimentos em ações somam US$ 3,475 bilhões. As captações por meio do lançamentos de ADRs (American Depositary Receipts) , sobretudo a captação feita pela Vale do Rio Doce, somaram US$ 3,908 bilhões. Mas o dinheiro não ficou no país. Ele ingressou apenas de forma simbólica, com duas operações simultâneas de câmbio, uma de entrada e outra de saída .

Nenhum comentário: