terça-feira, 29 de julho de 2008

Oportunidades além das commodities

por Valor Econômico
29/07/2008
A estratégia da Votorantim Corretora é concentrar a análise de empresas nos setores com maior potencial de ganho, explica Ricardo Cavalheiro, responsável pela área. Nessa lista estão os segmentos de infra-estrutura, consumo, bancos, construção civil e agronegócio - com destaque para alimentos. A idéia é refletir a economia brasileira, e não reproduzir o Índice Bovespa, que hoje tem grande concentração em commodities.
Hoje, no Ibovespa, cerca de 45% do índice são papéis de empresas de commodities, especialmente Vale e Petrobras. "Isso não reflete a economia brasileira, onde a maior parte do PIB vem de serviços e onde a indústria também tem um peso grande", diz Abraham Weintraub, diretor da corretora. Por isso, a idéia é criar um "pacote Brasil" para os investidores, com setores que se beneficiem do crescimento da economia brasileira e mundial. "Queremos ter um diferencial, não vamos cobrir as grandes blue chips, pois sabemos que nossa vantagem será em empresas de menor porte", diz o executivo. A Votorantim Corretora também não deverá cobrir empresas do grupo, como a CPFL, Aracruz, VCP e Usiminas.
Sobre o momento atual do mercado e as fortes perdas da bolsa, Weintraub, que foi por anos economista da Votorantim Finanças, mantém uma visão otimista de longo prazo. Para ele, os países emergentes, o que ele chama de "periferia do capitalismo", vão continuar crescendo. E como a renda per capta desses países é baixa, seu consumo deve ser mais de produtos básicos, ou seja, alimentos, artigos para construção civil e matérias-primas em geral. "Esse aumento de consumo de commodities vai durar dez anos e o Brasil é um dos poucos com potencial para atender essa demanda", diz.
Para ele, o pior da crise observada no sistema financeiro americano já passou, mas isso não significa o fim do purgatório para as bolsas. "Teremos ainda os efeitos colaterais no crédito, no consumo, no mercado imobiliário dos Estados Unidos, e isso ainda vai aparecer por vários meses nos resultados de bancos e da economia americana, talvez até o primeiro semestre do ano que vem", diz. Assim, até lá, as bolsas mundiais devem sofrer com a perspectiva de um crescimento mundial menor.
Já no Brasil, a expectativa é de que os juros sigam altos, ao menos até o segundo semestre de 2009. E a bolsa deve seguir em baixa até que o BC pare de subir os juros. Depois, ao primeiro sinal de que a inflação está controlada, o mercado deve antecipar a recuperação da economia. E, no momento em que os juros voltarem a cair, deve-se observar novamente uma migração da renda fixa para a renda variável, como ocorreu no ano passado. "Hoje, com juro real (acima da inflação) na casa dos 8% ao ano, é difícil para as ações competirem com a renda fixa", diz, lembrando que em geral o investidor pede um prêmio em torno de 5% acima do juro básico para ficar com ações - o que daria um retorno real de 13% ao ano ou 19%, 20% nominais se acrescida a inflação, na casa dos 6%. Diante desse custo de oportunidade, Weintraub acha que não é hora de o investidor se arriscar comprando ações desenfreadamente. "Em momentos de estresse, o ideal é não inventar".
Para quem quer ter parte do patrimônio em ações, com visão de longo prazo, porém, ele vê oportunidades. "Não dá para dizer que uma Petrobras ou uma Vale são aplicações especulativas em um prazo de dez anos de aplicação", diz ele.

Nenhum comentário: