quarta-feira, 16 de abril de 2008

Merrill vê crescimento nos Bric e em Dubai

por Cristiane Perini Lucchesi de Valor Online
16/04/2008

Candace Browning, chefe mundial de análise da Merrill Lynch: "Ironicamente, a volatilidade maior nos mercados faz crescer a necessidade de pesquisa"
As oportunidades de crescimento para o departamento de análise e pesquisa da Merrill Lynch neste ano e no próximo estão principalmente nos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e no Oriente Médio, disse ao Valor Candace Browning, chefe da área a nível global. "Essas regiões tiveram e deverão continuar a ter a maior expansão nos seus mercados", afirmou, em visita a São Paulo após dois anos.
A executiva, que responde diretamente para o novo CEO (presidente executivo) da Merrill Lynch, John Thain, visita regularmente os países nos quais a Merrill Lynch tem mais de dez analistas. No Brasil, o banco tem 16 analistas que publicam relatórios, além de três estagiários e três assistentes.
Candace Browning não nega que, por causa das perdas com a crise nas hipotecas americanas, a Merrill Lynch terá de fazer cortes de pessoal, o que vai incluir a área de análise. "Ironicamente, a volatilidade maior nos mercados faz crescer a necessidade de pesquisa, aumentando seu valor", comenta. "Nosso economista-chefe para os Estados Unidos, David Rosenberg, nunca esteve tão ocupado", conta. Ele foi um dos primeiros a falar, ainda no final do ano passado, em "pouso brusco" para a economia americana.
Segundo Candace Browning, em situações como as atuais, os investidores querem mais do que nunca entender o que está acontecendo e a área de análise se torna mais procurada. Por outro lado, lembra, o apetite dos investidores por produtos "exóticos", como os pacotes de derivativos de crédito das hipotecas, se reduziu.
Diante da necessidade de corte dos gastos, ela vê espaço para "reengenharia e reestruturação" em todas as regiões nas quais o banco atua. "Mas, nós da Merrill Lynch estamos determinados a não cometer os mesmos erros das crises de 1998 e 2001, nas quais cortamos muito pessoal e não conseguimos aproveitar a retomada do mercado depois."
Até agora na área de pesquisa e análise foram feitos "modestos ajustes", principalmente em Londres. Hoje, a Merrill Lynch tem 800 analistas que cobrem 3.600 empresas em 24 países. A executiva destaca que, até este momento, o mercado não sabe todos os impactos da crise.
Segundo ela, 60% dos negócios da Merrill Lynch são fora dos Estados Unidos, que estão com crescimento econômico lento e representam 22% do Produto Interno Bruto mundial. "As oportunidades de expansão são bem maiores no exterior do país, com destaque para os Bric", diz. Em Dubai, no Oriente Médio, o banco tem presença "ainda fraca" na área de análise, mas pretende crescer. Outros destaques, mas de menor peso, são o que Candace Browning chamou de mercados de fronteira, como Vietnã, Turquia e Paquistão. "São países com crescimento forte, mas cujos mercados têm baixa correlação com os países desenvolvidos e emergentes maiores", diz.
Com a crise, as emissões públicas iniciais de ações (da sigla em inglês IPOs) perderam força em todo o mundo, concorda. Assim que o mercado de renda variável se recuperar, segundo ela, as transações deverão se concentrar mais em emissões adicionais de ações de empresas já listadas. Isso poderá acontecer já no segundo semestre do ano, aposta. "As empresas vão ganhar ao ampliar a liquidez de suas ações", diz. Além disso, os investidores preferem em momentos de crise comprar títulos de renda variável mais líquidos e de empresas que já tenham uma história anterior de mercado, acredita. Nessa recuperação, segundo ela, os Bric terão performance relativamente melhor em relação aos demais mercados no mundo.
O mercado de renda fixa também reduziu volumes de emissão e teve aumento dos prêmios de risco, concorda Candace Browning. Ela lembra, no entanto, das grandes diferenças setoriais. "O maior desafio, sem dúvida, são os produtos estruturados", diz. Os mercados de commodities, moedas e crédito de baixo risco continuam ativos, informa a executiva.
Ela diz estar otimista com o Brasil, por causa da indústria produtora de commodities, que vai ser uma das locomotivas do crescimento do país, da melhoria nas contas públicas do governo e da redução na vulnerabilidade externa. Segundo ela, o Brasil se transformou em um centro regional para a América Latina. "O Brasil é, sem dúvida, o mais importante país da região para a área de pesquisa da Merrill Lynch", comenta. Ela lembra que dos doze analistas de renda variável da Merrill Lynch na América Latina, a metade está no Brasil. Lembra ainda que das 152 empresas cobertas pelo banco na região, a metade é brasileira.
O banco acaba de promover João Carlos Santos para lugar do analista Alexandre Falcão, que foi para o Morgan Stanley. Darrin Kerr acaba de ser transferido de Nova York para o Brasil também para cobrir as empresas de pequena e média capitalização. Outros dois analistas deverão ser transferidos para o país em breve, informa Candace Browning, sem citar nomes.

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