quarta-feira, 16 de abril de 2008

Petrobras já incomoda grupos japoneses

por Shinchiro Nakaba de Valor Online
16/04/2008


A entrada da Petrobras no mercado de combustíveis do Japão, através da compra da refinaria Nansei Sekiyu, neste mês, coincide com o início de um processo de reestruturação temido pelas petrolíferas japonesas. O segmento passa por fusão de empresas, fechamento de refinaria e introdução do biocombustível, que reduz a venda de gasolina. As mudanças indicam o desconforto das empresas de petróleo do país asiático com a presença da multinacional brasileira.
Durante viagem a Tóquio, na semana passada, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afirmou que pretende usar a refinaria Nansei Sekiyu só para atender a demanda nas pequenas ilhas localizadas no sul do Japão e também Taiwan, Cingapura, China e Vietnã. O objetivo seria aumentar o refino de petróleo leve da unidade japonesa, hoje entre 30 e 40 mil barris por dia, para a capacidade máxima de 100 mil barris. Mas ninguém acreditou. O mercado dá como certo projeto de modernização da unidade da Nansei Sekiyu, estimado em US$ 1 bilhão, para processar petróleo pesado exportado do Brasil.
Gabrielli não negou que pode negociar parcerias para expandir a atuação no mercado japonês. A empresa também tem interesse no fornecimento de combustível industrial. O início das atividades de refino no Japão faz parte do projeto da Petrobras de se tornar uma das cinco maiores do segmento no mundo.
As petrolíferas japonesas dão sinais de que não vão aceitar facilmente a entrada da empresa brasileira no mercado asiático. Ao mesmo tempo em que a Petrobras confirmava a aquisição de 87,5% das ações da refinaria, por cerca de US$ 55 milhões, a maior empresa de petróleo do Japão, Nippon Sekiyu, anunciava projeto de fusão com a sétima do segmento, a Kyushu Sekiyu.
O novo conglomerado japonês, além de assegurar 30% das vendas de gasolina no Japão, que correspondem a US$ 73,5 bilhões, passa a controlar, a partir de outubro, a distribuição de combustíveis em região vizinha a Petrobras, formando uma espécie de barreira que dificulta a penetração dos produtos da empresa brasileira nos mercados mais rentáveis localizados ao norte do arquipélago. Assim, geograficamente, a refinaria da Petrobras fica isolada na região menos desenvolvida do Japão e mais próxima a Taiwan e China.
A Nippon Sekiyu também anunciou, no dia 9, o fechamento de uma refinaria, no leste do país, com capacidade para produzir 60 mil barris por dia, volume que representa 1,4% do consumo japonês. A empresa explicou que a decisão se deve à retração das vendas de gasolina nos últimos anos.
Lideradas pela Nippon Sekiyu, as refinarias japonesas aumentaram, no mês passado, a projeção de produção de biocombustível para 500 milhões de litros por ano, até 2013. A meta representa mais do que o dobro da previsão inicial de 210 milhões de litros, até 2010.
A revisão acontece num momento em que a Petrobras estuda a possibilidade de estocar álcool brasileiro no recém-adquirido terminal da Nansei Sekiyu, com capacidade de armazenamento de 9,6 milhões de barris, para distribuir ao mercado asiático. A empresa confirmou recentemente trabalho conjunto com a trading japonesa Mitsui para a construção, no Brasil, de dutos de escoamento de etanol, com o objetivo de atender a futura demanda do produto no mercado internacional.
A comercialização do biocombustível é o que as petrolíferas japonesa mais tentam evitar. As refinarias não ganham nada com o etanol importado. Assim, a mistura de álcool no combustível acarreta somente a queda de vendas de gasolina, o que afeta o lucro das distribuidoras. A Petrobras, que lucra com o comércio do álcool brasileiro e da gasolina, pode ficar numa posição privilegiada se começar a produzir e distribuir biocombustível no Japão.
O presidente da poderosa Associação de Petróleo do Japão, Fumiaki Watari, que também preside a Nippon Sekiyu, faz de tudo para ganhar tempo e conseguir encontrar soluções para a delicada situação das refinarias e distribuidoras de combustível japonesas. O executivo é contra o uso do etanol. Alega, até mesmo em público, que o álcool afeta algumas peças do motor dos veículos, representando risco para os usuários.
Mas o biocombustível é uma necessidade para o Japão que precisa diminuir a emissão de dióxido de carbono para atender as exigências do Protocolo de Kyoto. Pelo acordo, o país deve reduzir o volume de gás carbônico em 6% cento do total emitido em 1999. O prazo limite é 2012. Para atingir essa meta, o governo de Tóquio precisa do etanol brasileiro.

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