quinta-feira, 12 de junho de 2008

Análise: Inflação assusta e BC pode reforçar aperto

por Luiz Sérgio Guimarães de Valor Econômico)
12/06/2008 08:29

SÃO PAULO - A ata do Copom que será divulgada hoje pelo Banco Central se refere à reunião ocorrida na quarta-feira da semana passada, antes, portanto, de conhecido o alarmante repique inflacionário detectado pelos três principais índices do país. O susto vindo tanto do IPCA fechado de maio quanto das primeiras prévias de junho do IPC Fipe e do IGP-M desencadearam ontem fortes altas dos juros futuros, a ponto de o mercado passar a temer a aceleração da velocidade de alta da taxa Selic.
Os participantes do pregão de DI futuro já começam a acreditar que o Copom não irá, em sua reunião de 23 de julho, manter o ritmo de avanço de 0,50 ponto aplicado à taxa básica nos encontros de abril e junho. A tendência é de que aumente a dose para 0,75 ponto. Mesmo se referindo a evento anterior à divulgação dos índices mais recentes de inflação, a ata não irá, em seu cenário prospectivo, ignorar as pressões mais recentes. Isso não significa, porém, que o BC irá ser preciso sobre quando pretende encerrar o atual ciclo de aperto. A autoconfiança demonstrada no comunicado da reunião de abril revelou-se excessiva e danosa à credibilidade da autoridade.
Em abril, o Copom garantiu que, com a alta de 0,50 ponto (acima das previsões) com a qual estava iniciando a série de aumentos da Selic, estava procedendo a " parte relevante " do arrocho planejado. No comunicado da reunião da semana passada, a certeza foi substituída pelo laconismo. " O documento irá frustrar aqueles que aguardam sinalizações sobre a extensão do ciclo de aperto monetário " , diz relatório da LCA Consultores. O tom da ata será inegavelmente duro e conservador, o BC irá enfatizar sua preocupação com as pressões de custos num ambiente econômico ainda aquecido, mas sem trazer comentários prospectivos sobre a velocidade e a duração do ajuste da Selic. Para a LCA, o termo " preventivo " usado anteriormente para qualificar o aperto monetário deverá ser suprimido da ata.
Não se trata mais de agir preventivamente sobre a inflação. Os índices divulgados ontem são inquietantes. Se forem o ápice do movimento de alta, talvez não se justifique um reaperto monetário por meio da aceleração da alta. Mas se não for o teto? O IPCA do mês passado acusou alta de 0,79%, para uma mediana das expectativas de 0,65%. Nos últimos doze meses, o indicador acumula evolução de 5,58%, ou seja, já superou levemente o meio do intervalo superior (entre 4,5% e 6,5%) da banda de flutuação da meta de inflação.
As primeiras prévias de junho do IPC Fipe e do IGP-M também vieram acima das previsões dos analistas. O primeiro avançou 1,3% e o segundo saltou 1,97%. O IPCA de maio reforça o prognóstico da Austin Rating segundo o qual o teto da banda está sob ameaça. No cenário básico da agência, o IPCA fecharia 2008 em 7,16%, acima, portanto, do teto da meta de inflação, de 6,5%. " Essa projeção considera a dinâmica histórica dos preços a partir de junho deste ano e incorpora nossas expectativas de inflação dos alimentos e dos preços monitorados de energia elétrica e telefonia fixa. As chances desse cenário se concretizar são de 60% " , diz seu economista-chefe, Alex Agostini.
O Copom tende a não se comprometer inteiramente com o futuro porque os próximos índices de inflação - os quais irão condicionar a duração e a extensão do aperto total - dependerão da força da onda de alta das commodities agrícolas e do petróleo. As informações mais recentes provindas da Opep são de que o cartel está empenhado em esvaziar a bolha que inflou o barril para cima dos US$ 130,00. Esse preço viabiliza a entrada no jogo de novos participantes e o cartel quer manter a concorrência fora de campo. A sua meta é derrubar o preço a US$ 70,00, um patamar lucrativo para os seus membros, mas que inviabiliza a incursão de novos competidores. Pelo menos ontem, as ameaças da Opep não desencorajaram os especuladores. O barril saltou 3,86% na Nymex, para US$ 136,38. Já a bolha das commodities agrícolas depende do dólar. Os EUA parecem dispostos a defender a sua moeda intransigentemente.
O mercado futuro de juros da BM & F não quis, ontem, conhecer argumentos em favor de uma atenuação do aperto monetário. Os " doadores " de dinheiro - os players que aceitam correr o risco da aplicação prefixada - se mostraram muito arredios ontem, e os juros dispararam. A taxa para a virada do ano avançou de 13,17% para 13,28%. O contrato mais negociado, para janeiro de 2010, saltou de 14,76% para 14,81%. A taxa do swap de 360 dias passou de 14,11% para 14,20%. A perspectiva de intensificação do aperto monetário fez o dólar cair na contramão das bolsas de valores. A moeda cedeu 0,36% no interbancário, cotada a R$ 1,6410.

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