sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Copom poderá voltar a elevar os juros em 0,75 ponto, indica ata

por Alex Ribeiro de VALOR ECONOMICO
01/08/2008

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central disse, em ata divulgada ontem, que "a política monetária deverá atuar vigorosamente, enquanto o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer". Analistas econômicos interpretaram essa frase como uma sinal de que o BC irá aumentar mais uma vez os juros básicos em 0,75 ponto percentual na sua reunião de setembro, de 13% ao ano para 13,75% ao ano.
O documento explica as razões que levaram o Copom a intensificar o ritmo de aperto monetário no seu encontro da semana passada, de 0,5 ponto percentual para 0,75 ponto percentual. Desde abril, quando os juros básicos se encontravam em 11,25% ao ano, o BC vem apertando a política monetária para conter pressões inflacionárias decorrentes do aumento de preços de "commodities", como alimentos e energia, e para reduzir o crescimento do consumo e investimentos, que avança acima da capacidade de oferta da economia.
Segundo o gerente de política monetária do Banco Itaú, Joel Bogdanski, a ata deixa claro que o BC intensificou o aperto monetário porque as suas projeções inflacionárias se tornaram mais desfavoráveis. O documento diz que "a projeção (do BC) para a inflação em 2008 elevou-se significativamente em relação ao valor considerado na reunião do Copom de junho e permanece acima do valor central de 4,5% para a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)".
A ata não diz qual é o valor exato da inflação projetada para 2008. Mas sabe-se que em fins de junho o BC projetava uma inflação de 6%. A ata do Copom diz que também pioraram as projeções de inflação para 2009, que em junho estava em 4,7%. Bogdanski nota que a piora dos prognósticos ocorreu a despeito de, em seus cálculos, o BC usar uma taxa de câmbio de R$ 1,60 (em junho, foi usado R$ 1,65), o que em tese deveria contribuir para reduzir a inflação projetada.
Em vários trechos, a ata do Copom descreve um cenário menos confortável, com alto nível de utilização da capacidade instalada, demanda aquecida, emprego e renda subindo, vendas no varejo ainda muito fortes e deterioração das expectativas de inflação. "O Copom diz que a inflação está na direção errada, tanto que o BC bate na tecla de que será necessário aumentar a probabilidade de que a inflação volte para a trajetória das metas", afirma Bogdanski. "O BC também define o prazo para a inflação voltar ao centro da meta: em 2009."
O economista avalia que o cenário econômico não deverá ter mudança substancial até setembro, quando ocorre a próxima reunião do Copom, o que torna provável que seja feita uma nova alta de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros.
O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, também acha que o cenário mais provável é alta de 0,75 ponto percentual em setembro, mas ele acha possível que na reunião seguinte, em fins de outubro, seja retomado o ritmo de altas de 0,5 ponto percentual.
A avaliação de Salomon é que não há grandes dúvidas de que a economia irá se desacelerar em 2009, abrindo espaço para uma inflação mais baixa. O Unibanco projeta uma inflação de 4,8% para 2009, acima da meta, de 4,5%, mas apenas porque trabalha com a premissa de que os preços administrados vão subir 6% no próximo ano, acima dos 4,8% previstos pelo BC. Usando o mesmo cenário traçado pelo BC, porém, os modelos do Unibanco chegam a uma inflação de 4,4% no próximo ano.
O cenário, porém, ainda é cercado de incertezas, sobretudo quanto ao crescimento da economia no curto prazo - que se mantém robusto, excedendo a capacidade de oferta.
A única mensagem positiva da ata do Copom é que, nas últimas semanas, surgiram evidências preliminares de uma possível acomodação nos preços das "commodities". O documento, porém, diz apenas que essa melhora "poderia contribuir para evitar que as pressões inflacionárias se intensifiquem ainda mais".
A consultoria LCA também trabalha com uma alta de 0,75 ponto percentual nos juros básicos em setembro, à qual se seguiriam duas outras altas de 0,5 ponto percentuais nas duas reuniões seguintes deste ano, em outubro e dezembro. Depois de chegar ao máximo de 13,75% em dezembro, o ciclo de aperto monetário seria interrompido. A LCA diz que as perspectivas inflacionárias devem melhorar até o fim do ano, devido a quatro fatores. Primeiro, afirma, porque é esperada uma descompressão na alta das "commodities". Segundo, porque a taxa de câmbio deverá manter tendência de apreciação, a despeito do aumento do déficit em conta corrente. Terceiro, porque o ritmo de expansão da atividade econômica deverá se tornar mais moderado, colocando fim no processo de deterioração das expectativas inflacionárias.

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