sexta-feira, 1 de agosto de 2008

PIB negativo afasta alta de juro nos EUA

por Luiz Sérgio Guimarães de Valor Econômico
1º/8/2008

Ainda não será desta vez que o Fed poderá dar vazão ao seu lado hawkish. Os dados divulgados ontem sobre o PIB americano e os pedidos de auxílio-desemprego afastam qualquer possibilidade de o Fed elevar a taxa de juros básica em 0,25 ponto na reunião marcada para a próxima terça-feira. O juro primário permanecerá no patamar de 2% em que está congelado desde o encontro do Fomc de abril. Os sinais colhidos recentemente pelos mercados foram de que o Fed não precisará tomar a decisão de manter o juro em 2% contrariado, com remorso ou receio de ter optado pelo caminho errado. O quadro já não é mais de estagflação. Trata-se de um cenário recessivo mais clássico. A inflação tende a não resistir ao desaquecimento econômico. Nem a inflação, nem os que especulam com contratos futuros de petróleo. O barril cedeu ontem 2,12% na Nymex, para US$ 124,08. As novas informações sobre a higidez da economia americana preocuparam os mercados mundo afora. E, no Brasil, exerceram mais influência sobre os vários pregões do que a ata do último Copom, previsivelmente pesada e fastidiosa. Nos EUA, ao contrário, houve novidade e das piores possíveis. Além de informar um crescimento do produto americano no segundo trimestre do ano aquém do previsto pelos analistas - projetavam alta de 2,3%, pois inflada pelos cheques de devolução de impostos, mas foi de 1,9% -, o Departamento do Comércio revisou para pior os resultados dos dois trimestres anteriores. Para o primeiro de 2008, a expansão não foi de 1% como divulgado antes, mas de 0,9%. Notícia mais negativa ainda estava por vir: para o último trimestre de 2007, a estimativa de alta de 0,6% foi revisada para contração de 0,2%. O relatório estufou o ego dos economistas que vinham alertando o mercado para a possibilidade de a economia já estar em recessão. A retração do PIB no quarto trimestre do ano passado apenas coroa as previsões sombrias. Para os economistas modernos, não se precisa mais formalmente de dois ou três trimestres de PIB negativo para caracterizar um estado recessivo. Bastam, para tanto, dados acentuadamente ruins durante alguns meses sobre produção, vendas comerciais, emprego, e isso os apocalípticos já tinham de sobra. Mas um PIB tecnicamente negativo empina ainda mais os narizes. O informe ruim sobre o PIB veio acompanhado por dados nada animadores relativos ao mercado de trabalho. Foram entregues mais 44 mil requerimentos de pedidos de auxílio-desemprego na semana passada, ampliando o total para 448 mil, o patamar mais elevado desde abril de 2003.

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