terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Dólar sobe 3,10% e fecha a R$ 2,391 com especulações

por Agência ESTADO
02 de Dezembro de 2008 17:25

O dólar teve forte alta em relação ao real e chegou a ultrapassar os R$ 2,40 em dois momentos da sessão, na contramão da queda em relação a outras divisas de países emergentes e o euro e da volatilidade ante a libra. Apesar de ter sido registrado um fluxo cambial positivo no mercado doméstico, o dólar foi pressionado por um movimento especulativo de investidores no mercado futuro, afirmou o economista-chefe da Liquidez Corretora, Marcelo Voss. O dólar comercial fechou o dia cotado a R$ 2,391, em alta de 3,10%. Na BM&F, o dólar negociado à vista subiu 3,06%, para R$ 2,39. O giro financeiro total à vista somou cerca de US$ 2,589 bilhões.
Segundo um operador de câmbio de um banco estrangeiro, desde ontem o mercado esperava um ingresso de recursos, tudo indica de cerca de US$ 1,5 bilhão, relativo à venda das ações da Centennial Minas-Rio pela MMX Mineração e Metálicos para a Anglo American. A operação foi fechada em julho, mas só agora os recursos para pagamento teriam entrado no mercado brasileiro.
Acontece que esse fluxo positivo já estava protegido (por operações de hedge) no mercado de derivativos cambiais da BM&F, explicou essa fonte, o que justificaria o efeito limitado desse fluxo sobre as cotações hoje, uma vez que não houve aumento da liquidez no mercado à vista. Quando o mercado percebeu isso e viu que o Banco Central, em vez de anunciar um leilão de venda direta de moeda hoje programou para amanhã uma operação de linha de US$ 2 bilhões com garantia em ACC/ACE, os investidores passaram a comprar dólar a fim de refazer posições vendidas no dia, num movimento que pressionou fortemente as cotações à vista e detonou ordens de stop loss (prevenção de prejuízo) de compra na primeira parte dos negócios, confirmou o gerente de câmbio de um banco de investimentos.
Por isso, o dólar atingiu a máxima pela manhã de R$ 2,417, alta de 4,23%. Posteriormente, as cotações desaceleraram, mas persistiram em terreno positivo. A mínima, de R$ 2,298 (-0,91%), foi registrada logo após a abertura, mas rapidamente foi abandonada e as cotações devolveram gradativamente a queda e passaram a subir diante da frustração dos investidores com a não realização do leilão de venda direta de moeda pelo BC e a constatação de que o fluxo positivo não teve efeito sobre os preços à vista.
Durante à tarde, o dólar comercial voltou a ser pressionado e renovou a cotação máxima do dia, a R$ 2,420 (alta de 4,36%). Um operador de uma corretora paulista justificou a nova arrancada das cotações à falta de vendedor de moeda no mercado, por causa da retomada da aversão ao risco esta semana diante da confirmação da recessão nos Estados Unidos e de freqüentes sinais de forte desaquecimento econômico nos países do Hemisfério Norte. "O mercado está arisco, descrente sobre o futuro da economia internacional e não enxerga fim para a volatilidade", avaliou.
Para Marcelo Voss, da Liquidez, os investidores no mercado doméstico estão operando de forma divergentes do comportamento das moedas de outros países emergentes - que por volta das 16h30 estavam em alta ante o dólar, como o peso mexicano (+1%), a lira turca (+1,36%) e a moeda da Hungria (+0,57%) - e apostando contra os próprios fundamentos positivos da economia brasileira. "Isso demonstra um movimento especulativo contra o real, que desorganiza o planejamento econômico das empresas e do próprio País", avalia.
Quanto à ausência dos leilões do Banco Central ontem e hoje, à exceção de Voss, as demais fontes consultadas avaliaram como correta, uma vez que não houve procura de investidores por causa de fluxo cambial negativo, ou seja, de uma eventual demanda para remessas de recursos ao exterior. "A postura do BC está sendo adequada porque, do contrário, ia dar saída para mais especulações no mercado futuro de câmbio", disse o operador de um banco estrangeiro. Contudo, para Marcelo Voss, o BC deveria prover liquidez a fim de mostrar que não vai deixar "o mercado correr solto".

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