segunda-feira, 5 de maio de 2008

Analistas começam a rever as projeções do Índice Bovespa

por Ana Paula Ragazzi, Angelo Pavini e Silvia Fregoni, de VALOR ONLINE
05/05/2008

Um dia depois do grau de investimento obtido pelo Brasil, algumas corretoras reavaliaram, imediatamente, as projeções para o Ibovespa ao final de 2008. Ativa e Win, home broker da Alpes Corretora, elevaram as estimativas para acima dos 80 mil pontos, alinhando-se com a projeção de outras casas que já esperavam pela mudança da nota e pelo alcance dessa pontuação.
Monica Araújo, chefe da área de estratégia da Ativa Corretora, explica que a perspectiva de que as empresas brasileiras terão maior acesso a crédito, com custos de captação reduzidos, resultou na mudança. Por conta disso, a casa reviu uma importante premissa utilizada no "valuation" (método de avaliação de empresa), que é o risco-país mais baixo, "spread" (diferença) entre os títulos da dívida brasileira sobre a curva de rentabilidade dos títulos americanos. "Em nossa revisão, trabalhamos agora com um risco-Brasil de 140 pontos base, ante 190 pontos base dos cálculos anteriores", diz. "Em função, disso, elevamos a projeção para o Ibovespa em quase 5%, de 77.500 pontos para 81.200", informa.
A analista destaca que o mercado acionário brasileiro já vinha embutindo no preço de seus ativos a possibilidade de atingir o grau de investimento. "Algumas empresas, inclusive, já tinham a nota", lembra. "Por isso, não necessariamente iremos observar imediatamente um aumento significativo do volume de recursos entrando na renda variável", diz Monica.
Antes de a nota chegar ao país, muitos analistas não descartavam a possibilidade de que a bolsa brasileira apresentasse oscilação pequena logo após o anúncio, o que não se confirmou. Em apenas dois pregões, o Ibovespa avançou 5.541 pontos, ou 8,68%, atingindo nova marca histórica, de 69.366. "Tudo que é surpresa tem de ter impacto", resume Pedro Bastos, principal executivo da HSBC Investments. Ele lembra que, diante da crise financeira internacional, a maior parte dos analistas contava com o grau de investimento apenas para 2009. "Ninguém esperava a notícia para aquela quarta-feira, mas ela veio e, agora, o Brasil passará por uma reavaliação dos preços de seus ativos", diz Bastos, ressaltando que a primeira reação dos investidores foi a cobertura de posições vendidas (em que apostam na queda das cotações).
De acordo com Bastos, o HSBC colocou em revisão os cálculos para o Ibovespa, hoje projetado em 80 mil pontos para o fim deste ano. "Antes da nota, tínhamos essa projeção, mas já estávamos atentos sobre a possibilidade de realmente chegar lá", diz. "Agora, certamente, revisaremos a projeção, apontando para uma alta ainda maior."
Monica, da Ativa, observa também que alguns dos países que conseguiram essa melhoria da nota de risco apresentaram realização nos mercados acionários logo depois, dado que parte dos investidores antecipa a melhoria dos indicadores econômicos. "Acreditamos que, em função de uma melhoria no cenário externo, o Brasil possa se distanciar dessa estatística e manter trajetória positiva", afirma.
Algumas casas também enxergaram no selo de investimento seguro um novo alento para a bolsa, depois de terem adotado metas menos otimistas diante dos estragos provocados no mercado pela situação do crédito nos EUA. Segundo Fausto Gouveia, analista da Win, a estimativa para o Ibovespa voltará aos 85 mil pontos projetados no início deste ano. "Com a crise no mercado de crédito americano, havíamos reduzido esta estimativa inicial para 75 mil, mas, com a recente entrada do Brasil no grupo de países de baixo risco de inadimplência, a meta volta a crescer 10 mil pontos."
Luiz Henrique Carneiro, sócio da Paraty Investimentos, não faz projeções em pontos para o Ibovespa, mas avalia que o índice tem, nos próximos meses, um potencial de alta na casa dos 20%. "Antes do grau de investimento, identificávamos a falta de um catalisador para que o índice tentasse buscar os 70 mil pontos", diz. "Agora, avaliamos que, até o fim do ano, o índice deverá romper os 85 mil pontos", diz.
O analista Pedro Galdi, da corretora do Banco Real, diz que a instituição não deve alterar de imediato o valor juros do Ibovespa, que é de 81.071 pontos. Segundo ele, a estimativa já leva em conta um risco-Brasil no nível de país grau de investimento. Mas ele acredita que as projeções poderão ser alteradas depois, caso haja uma variação muito forte do câmbio em função de um fluxo maior de investimento estrangeiro ao país devido à nova classificação. "Toda vez que há uma mudança grande no dólar, é preciso ajustar as projeções", diz.
As estimativas, tanto para o Ibovespa quanto para as empresas, também poderão ser revisadas mais para frente, a fim de incorporar possível diminuição no custo de captação das companhias. A expectativa é de que as taxas médias pedidas pelos investidores caiam com a mudança do status soberano. "Tanto governo como empresas terão taxas mais atrativas para alavancagem", afirma Galdi.
Entre os que mantiveram estimativas, Fabio Anderaos de Araujo, da Itaú Corretora, afirma que por ora, a projeção fica em 83.200 pontos. Também o Unibanco, que calcula o principal índice da bolsa em 78 mil pontos em dezembro, e a Fator, que aponta 75 mil, não manifestaram intenção de promover revisão dos números agora.
Bastos, do HSBC, ressalta que a análise positiva tem fundamento e o grau de investimento torna possível o ingresso de novos recursos no país, porém, essa entrada não será automática. "O Brasil precisa continuar mostrando bons indicadores para atrair esses investidores", diz. "Mudamos de patamar, o que equivale a dizer que antes muitos investidores nem queriam ouvir informações sobre o Brasil, mas agora estarão dispostos a conhecer o país", diz.

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