quarta-feira, 28 de maio de 2008

Dividendo no bolso

por Angelo Pavini de Valor Online
28/05/2008

O investidor em ações está com o bolso mais cheio este ano graças aos dividendos ou juros sobre capital próprio - parcela dos lucros distribuída pelas empresas. Além dos ganhos bem mais gordos - os lucros cresceram em média 26,9% em 2007 e mais 12,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme estudo do Valor Data - muitas empresas estão mais líquidas, faturando alto e puderam antecipar o pagamento neste início de ano. Com isso, até abril, foram pagos R$ 12,371 bilhões, 70% a mais do que os R$ 7,245 bilhões do mesmo período de 2007, segundo dados da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).
Se retirarmos desse total Petrobras e Vale, que sozinhas responderam por R$ 4,6 bilhões do que foi pago de parte do lucro até abril deste ano, mesmo assim o crescimento é relevante: R$ 7,7 bilhões, para R$ 4,2 bilhões nos primeiros quatro meses do ano, um crescimento de 72%, segundo a CBLC.
É interessante notar o crescimento do número de empresas repartindo parte dos lucros. Até abril, 248 haviam distribuído algum dinheiro aos acionistas, para 196 no mesmo período de 2007. O crescimento pode ser atribuído à estratégia de mostrar números bons para o investidor em um momento em que a bolsa ia mal das pernas e muitos papéis perdiam até 50% de seu valor por conta da crise das hipotecas americanas. E como muitos acionistas são investidores estrangeiros, curtos de caixa por conta da crise, pagar logo os dividendos passa a ser um atrativo a mais. Parte desse dinheiro já deve inclusive ter deixado o país, como mostram os números de remessas ao exterior. Houve ainda casos específicos, como as empresas de telefonia que estão se reestruturando e onde, segundo analistas, é interessante para os atuais acionistas receberem o máximo de dividendos antes de sair.
Outro ponto importante é a contribuição das novatas para os dividendo. Até abril, as empresas que abriram capital ou entraram no mercado para valer - caso, por exemplo, de TAM e SulAmérica, que tinham ações em bolsa, mas fizeram ofertas recentemente para possibilitar uma liquidez mínima - de 2004 para cá contribuíram com R$ 1,028 bilhão em lucros para o bolso do investidor. Sozinha, Cosan respondeu por R$ 342 milhões, seguida de Redecard, com R$ 67 milhões. O Valor contou 48 empresas que pagaram pelo menos R$ 1 milhão aos acionistas no período, segundo dados da CBLC.
Nesses valores, há tanto lucros obtidos neste ano quanto no ano passado, uma vez que algumas, companhias, como os bancos, pagam mensalmente os dividendos. Outros esperam fechar o balanço anual para pagar, caso de Petrobras, mas antecipam uma parte por meio de juros sobre o capital. A boa notícia é que o crescimento dos lucros continua este ano, como apontam as projeções de ganhos feitas pelos analistas de bancos e corretoras (ver página D2)
O aumento dos dividendos foi decorrência de uma série de mudanças para melhor nas empresas, afirma Marco Melo, responsável pela área de análise da corretora Ágora. Entre essas melhorias está a maior capacidade de distribuir lucros graças ao aumento dos ganhos, avanço das políticas de governança corporativa e o aumento do "pay-out", a parcela do lucro reservada para distribuição. "A maioria das empresas brasileiras já paga mais de 30% do lucro aos acionistas, mais que os 25% exigidos por lei", explica.
Apesar do crescimento dos dividendos pagos, porém, o retorno do acionista levando em conta o preço da ação - o chamado "dividendo yield" - caiu neste ano. Mas foi muito mais em função da alta dos preços das ações, explica Melo. Hoje, os principais papéis da bolsa brasileira, levando-se em conta o Índice Bovespa, projetam um retorno de 2,6% este ano em dividendos sobre o preço das ações no início de maio. "É um percentual aparentemente baixo em relação aos juros, de 11,75%, mas está acima da média dos emergentes, de 2,3%, e de muitos mercados, como Rússia, Coréia, Índia e China", estima Melo. Mas essa é uma média, há empresas que pagam bem mais que isso, lembra Melo.
O "dividend yield" médio do mercado brasileiro projetado para este ano deve recuar da média histórica de 4,5% para a casa dos 2%, estima Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora. A alta dos preços das ações, explica, acaba reduzindo o retorno proporcional em dividendos. Ela lembra que muitas empresas estão ampliando seus investimentos, o que pode fazer com que o crescimento dos dividendos não acompanhe o dos lucros. "Vale e Petrobras estão com programas de investimento muito ambiciosos para os próximos anos e talvez os dividendos não cresçam tanto."

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